terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Transexualismo em questão

A participação de Ariadna Arantes, em um dos programas de maior audiência da televisão brasileira, o Big Brother, e o sucesso internacional da modelo brasileira Lea T., ambas transexuais, colocaram a opção por mudança de sexo, sua motivação e consequências em pauta.


Na reportagem “Transexualismo não está associado à personalidade psicótica”, publicada no dia 11 de fevereiro no jornal Folha de São Paulo, foi descrito o estudo realizado no Instituto de Psicologia da USP, que afirma que a vontade de ser do sexo oposto não implica, necessariamente, em diagnóstico de patologia ou disfunção de percepção da aparência, e corresponde à singularidade de algumas pessoas.

O autor da pesquisa, o psicólogo Rafael Cossi, trabalhou com diversos princípios da psicanálise lacaniana para tentar explicar por que algumas pessoas buscam viver suas vidas como se fossem do sexo oposto.

De acordo com o pesquisador, os casos de transexualismo não devem ser enquadrados, automaticamente, em padrões que tendem a condenar ao campo da patologia, as pessoas que não se enquadram no modelo heterossexual. Ele diz que tratar o transexualismo como uma singularidade de cada indivíduo é entender a personalidade de cada um e fugir dos estereótipos.

A modelo internacional Lea T.
O assunto também foi abordado no último domingo (20), no programa Fantástico, da Rede Globo. A repórter Renata Ceribelli entrevistou a transexual Lea T , 28, filha do ex-jogador de futebol da seleção brasileira Toninho Cerezo. A brasileira alcançou sucesso internacional, e figura entre as 50 maiores modelos da atualidade.
Lea T. falou sobre a infância, as mudanças no dia-a-dia, do preconceito, a reação da família quando soube o diagnostico e afirmou que nunca se sentiu gay. A modelo contou que após perceber as mudanças de comportamento, resolveu procurar auxílio especializado, e através de um psiquiatra passou a entender melhor a sua sexualidade. Foi quando recebeu o diagnóstico de transexual: um distúrbio de sexualidade. Simplificadamente: uma mulher em um corpo de homem.

Ceribelli perguntou se tem lado bom em ser transexual, e Lea T desabafou : “Eu não vejo lado bom em ser transexual. Eu sou penalizada em tudo. Não é uma coisa gostosa. Você tem que levar para o lado do transexualismo em si: remédio, terapias, operações e preconceito. Mas também tenho a parte da minha vida sem pensar nisso, os momentos de felicidade".

O transexualismo, é definido como patologia pela Classificação Internacional de Doenças , e descrito como anomalia da identidade sexual, em que o indivíduo se identifica psíquica e socialmente com o sexo oposto ao que lhe foi determinado pelo registro civil. O transexual não aceita seu sexo biológico, buscando na cirurgia de redesignação sexual o fim do sofrimento causado pela incompatibilidade entre sua identidade sexual física e psíquica. Entretanto, apesar da classificação como patologia, no ano passado, a França foi o primeiro país a não considerar mais o transexualismo como doença mental. O país retirou transexualismo da lista das patologias psiquiátricas, e na ocasião, o porta-voz da Associação de Gays, Lésbicas, Bissexuais e Transexuais, Philippe Castel declarou: “É histórico, algo muito importante e muito esperado pelos transexuais franceses".

Não há dúvidas sobre o avanço que a medida representa, frente à busca por compreensão da subjetividade de interpretação da realidade, emoções e liberdade individual de cada pessoa. Entretanto, é prudente que antes de iniciar quaisquer processos de modificação física, a pessoa busque auxílio profissional em Saúde Mental, não só para compreender as suas próprias reações e sentimentos, como também para se preparar, emocionalmente, para enfrentar os diversos desafios que farão parte da sua vida, de forma permanente.

Assista a entrevista de Lea T. na íntegra , no portal do Fantástico, e leia também: Transexualismo não está associado a personalidade psicótica e Transexualismo é retirado de lista de doenças mentais na França , no portal da Folha.

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