
O pai era um carrasco, e além do mais perverso, queria ganhar dinheiro e fama com os filhos. Gritava com os filhos, batia neles, humilhava-os: por exemplo, dizia que Michael tinha o nariz “esborrachado”, que era um “negro” desprezível, etc. Há histórias, inclusive, de abuso sexual, a irmã de Michael, La Toya Jackson parece já ter insinuado isso. A mãe, por outro lado, tem história de depressão, ansiedade, submissão excessiva ao marido, valorização do marido acima dos filhos, e era, no mínimo, complacente e cúmplice dos absurdos do pai; Michael parece ter herdado basicamente o temperamento e personalidade dela. Era, portanto, um menino submisso, ansioso, obsessivo, personalidade frágil e com pouca assertividade. Com tudo isso, personalidade ânsio-obsessiva e cobrança do pai, tornou-se um neurótico da perfeição. O trabalho obsessivo, a exaustão física das danças repetidas, turnês, shows, mídia, a agenda carregadíssima, tudo isso durante algum tempo foi capaz de domar sua ansiedade. Mas esta última, quando não é convenientemente resolvida, sempre volta.
Como é que as pessoas normais, adultas, resolvem esta “ansiedade flutuante”? O método mais eficaz é a dedicação ao outro, esposa, lar, filhos. Mas é aí que os problemas de Michael se multiplicavam: em primeiro lugar ele não tinha uma família normal, “gostosa”, afetiva, lúdica, relaxante, aconchegante, provedora de segurança.
Dentro de sua família as relações eram de “pai-patrão”, empregadores e empregados, normas, proibições, escalas de trabalho, compromissos; desta forma, Michael não se encontrou com o “genuíno outro”. Sem ascender à posição de relacionar-se com o outro, cuidar do outro, o cantor ficou preso a uma posição “infantil” (é a criança que não cuida do outro, trata o outro de igual para igual, não tem compromissos, obrigações).
O sucesso estrondoso, os compromissos sufocantes, as homenagens, fama, dinheiro, viagens, presentes, etc, tudo isto também ajudou a “fixar” sua vida em um só momento, um momento que não sofreu evolução no decorrer dos tempos. Por isto ele sempre se julgou criança, agiu feito criança, vestiu-se como criança, conviveu só com crianças, fez sexo de verdade só com crianças. O cuidar do outro, a responsabilidade sobre o outro, o compromisso com o outro, tudo isso consome nossa energia e baixa nossa ansiedade – isso acontece com as pessoas normais. Sem este recurso, praticamente só, com um temperamento ansioso, obsessividade, episódios depressivos, Michael só teve um recurso: recorrer aos tóxicos “calmantes” e “antidepressivos” da morfina, substância analgésica com potencial de abuso que ele começou a usar na vigência de um problema ortopédico (excesso obsessivo de danças). E foi a overdose e tolerância destas substâncias que acabaram matando-o (“tolerância”, em psiquiatria, é quando há uma necessidade de se ir aumentando a dose e frequência da droga utilizada).
Michael gostava do pai, tanto que tentava agradá-lo, fazendo o que este esperava dele. Só que o pai só exigia, só criticava, não dava o amor e segurança que ele esperava ter. Sem este amor e segurança, ele nunca pôde transformar-se em um pai de verdade, um pai que doa amor e segurança. Ele ficou “parado” na posição de quem é apenas uma criança, apenas espera o cuidado, o amor, a segurança – não pode dá-los. Daí o fato dele considerar as crianças como seus “iguais” , alguém para “brincar” (inclusive sexualmente), e não como a de alguém que ele tem de proteger e cuidar.
Fonte: Diário da Manhã
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