Membros das associações das famílias das vítimas do voo AF 447 da Air France, incluindo a brasileira, se reúnem em Paris nesta quarta-feira com autoridades francesas para obter informações sobre o início do processo de identificação dos corpos e também sobre o andamento das investigações do acidente.
O processo de identificação dos restos mortais de 104 vítimas do voo AF 447, que caiu no Atlântico em 2009, deverá começar nesta sexta-feira ou sábado e poderá levar meses, disse à BBC Brasil o coronel François Daoust, diretor do Instituto de Pesquisas Criminais da Polícia Militar (IRCGN, na sigla em francês).
O instituto, especializado na identificação de vítimas de catástrofes, comandará esses trabalhos, que estão sob a autoridade da Justiça francesa.
A previsão é de que o navio Ile de Sein, utilizado no resgate dos corpos e de peças do avião Airbus, chegue à França na quinta-feira, no porto de Bayonne, no sudoeste do país.
Em seguida, os corpos serão transferidos ao Instituto Médico Legal (IML) de Paris, onde uma equipe de legistas e dentistas realizará autópsias e os primeiros exames para detectar eventuais cirurgias, implantes, como marcapasso cardíaco ou pinos, além de uma análise detalhada da dentição.
Número de resgates
No total, 154 corpos dos 228 que estavam a bordo do avião que fazia a rota Rio-Paris foram resgatados.
Os primeiros 50, sendo 20 deles de brasileiros, foram retirados do mar logo após a catástrofe, em 31 de maio de 2009.
O coronel Daoust alertou que os 104 “despojos” resgatados entre maio e o início deste mês podem não representar 104 vítimas. Alguns dos restos mortais podem ser de um mesmo passageiro.
Foi, aliás, o que ocorreu no processo de identificação em 2009. O número de corpos resgatados na época, inicialmente de 51, foi revisado para 50 após a conclusão de que um dos restos mortais pertencia a uma das vítimas já identificadas.
O instituto francês já dispõe das informações necessárias à identificação e do DNA dos familiares das vítimas europeias e de quase todas as outras nacionalidades, com exceção das brasileiras, disse Daoust.
“Aguardamos os dados do Brasil. Isso será resolvido em breve. Os dois juízes franceses estão em contato com a Justiça brasileira para a transferência das informações e do DNA à França”, declarou o coronel.
As vítimas eram de 33 nacionalidades. Franceses (72), brasileiros (59) e alemães (26) totalizavam mais de dois terços das pessoas a bordo.
O material genético dos familiares é exatamente o mesmo coletado pouco após o acidente, em 2009, afirma Daoust.
No Brasil, a associação dos familiares havia declarado acreditar que uma nova coleta de DNA fosse necessária.
O processo de identificação dos corpos será realizado de acordo com um protocolo científico e jurídico bastante rigoroso, afirmou o diretor do IRCGN.
Os corpos são provas no processo em trâmite na Justiça francesa, que indiciou a Airbus e a Air France por homicídio culposo.
Identificação
Daoust afirma que o processo de identificação deverá levar “semanas ou até mesmo meses”. Ele lembra que as identificações das 50 vítimas realizadas em 2009 demoraram dois meses.
“Os corpos, naquela época, estavam menos deteriorados do que os resgatados recentemente, que ficaram dois anos a 3,9 mil metros de profundidade”, afirma.
O processo não se resume a uma simples comparação de DNA, que será extraído dos ossos.
Após os exames realizados por especialistas, os dados serão inseridos em um software utilizado pela Interpol, que irá propor algumas identificações possíveis.
Só então uma comissão, formada por biólogos, dentistas e especialistas em identificação, estudará caso por caso. Todos devem estar de acordo para que um corpo possa ser identificado.
Segundo Daoust, dois observadores brasileiros vão acompanhar todo o processo.
O resgate dos corpos divide as famílias. Para algumas, o processo representa um novo luto. Parentes que perderam mais de um ente querido temem não recuperar todos os corpos.
Fonte: Portal BBC Brasil.
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