Isolado de todos desde a infância, o assassino era considerado antissocial, quadro que piorou com a morte da mãe adotiva
Rapaz de poucas palavras e ainda menos amigos, Wellington Menezes de Oliveira foi quase invisível durante seus 23 anos de vida. Mas, paradoxalmente, fez de seu último ato um espetáculo macabro para a fama internacional. Vizinhos, conhecidos e ex-colegas de escola ou trabalho dizem, quase que uníssono, que sabem pouco ou nada sobre ele. Tímido, fechado e introvertido são algumas das palavras usadas para defini-lo. “A vida do Wellington era uma caixinha à qual só ele tinha acesso”, diz Bruno de Almeida, 23 anos, que estudou com o assassino na adolescência, justamente na Escola Municipal Tasso da Silveira à qual ele voltaria anos mais tarde para protagonizar um massacre contra crianças indefesas.
A personalidade perturbada de Wellington já se fazia notar na infância. Adotado ainda bebê por uma família com outros quatro irmãos mais velhos (todos filhos biológicos de Dicéia e Guido, já falecidos), ele sempre foi uma criança calma, mas considerada diferente das outras. Ia pouco à pracinha perto da casa na qual a família morava, em Realengo. “Ele tinha o seu próprio mundo, não falava muito. Não via o Wellington com amigos na infância”, lembra a ex-vizinha Elma Pedrosa. Adolescente, não mudou muito e passava muito tempo enfurnado em casa. Na escola, o garoto “quieto demais”, que “nunca olhava nos olhos dos outros” e “falava muito baixo”, de acordo com estudantes de sua época, acabou se transformando em uma típica vítima de bullying. Alguns dos apelidos pejorativos que lhe foram dados eram Sherman, uma referência ao personagem bobalhão do filme “American Pie”, e Suingue, porque ele mancava de uma perna e andava como se estivesse dançando.
“Ele teve acompanhamento psicológico. Diagnosticaram-no como antissocial”
Irmão de Wellington de Oliveira
Segundo o ex-colega de classe Almeida, era perceptível que “o Wellington não era uma pessoa normal”. A situação se agravou aos 17 anos, quando ele começou a investigar a vida de sua mãe biológica, Eliete Pereira, segundo um irmão dele que mora em Brasília e não quer se identificar. Ela havia tentado o suicídio ainda no início da gravidez, após descobrir que o marido tinha outra família. Eliete jogou-se na frente de um ônibus em Santa Cruz, no Rio. O acidente não teria deixado sequelas no bebê, mas provocou um quadro de alteração psicológica na mãe, que entrou em depressão profunda. Às vezes, era acometida pela síndrome do pânico. “Ele teve acompanhamento psicológico. Em cinco sessões, diagnosticaram-no como antissocial, mas não foi identificada esquizofrenia”, diz o irmão.
O comportamento diferente teve troco: “Ele se excluía, e era excluído também”, diz ele. Em certa ocasião, foi humilhado ao ser chamado de “o estranho da turma” diante de todos os colegas. “Houve uma vez em que um cara virou-se para ele e disse: ‘Wellington, a gente tem medo de você’”, lembra Almeida. Assim, sem amigos e rejeitado pelas garotas, o isolamento se agravou. Ninguém se lembra de tê-lo visto com uma namorada.
Ele preferia ficar calado ou sair de perto de quem o incomodava. Aluno mediano, frequentava as aulas com regularidade – exceto as de educação física, nas quais pouco aparecia. Não há registro de mau comportamento na sala de aula e ele nunca repetiu ano. Um dos assuntos que o interessavam, desde aquela época, era religião. Durante quase dez anos, frequentou a congregação Testemunhas de Jeová, a mesma de sua mãe adotiva, Dicéia, que morreu há dois anos e ao lado de quem ele pediu para ser enterrado. “A gente pregava de porta em porta. Mas eu acabei deixando a Igreja no fim de 2008, e o Wellington saiu pouco tempo depois”, conta o artista plástico Guilherme Boniole.
Com a morte da mãe adotiva, mergulhou em um mundo só seu, de ausência e indiferença. Deixou a barba crescer e passou a usar só roupas pretas. A tecnologia foi ganhando cada vez mais espaço em sua vida. “A sensação é de que ficou pior”, diz uma ex-vizinha, a vendedora Vanessa Nascimento. Na época, Wellington vivia na mesma casa onde cresceu com a família, em Realengo, localizada a menos de dez minutos, a pé, da escola na qual ele estudou, matou e morreu. Órfão de pai e mãe, no ano passado, pediu demissão da empresa do setor alimentício na qual trabalhava, no almoxarifado, e foi morar sozinho em Sepetiba, bairro da zona oeste do Rio. É possível que, àquela altura, já começasse a desenhar seus planos macabros.
Fonte: Revista ISTO É
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