quinta-feira, 24 de março de 2011

Quando a ansiedade não passa

Em 1895, Sigmund Freud escreveu um artigo que se tornou um marco para o estudo da ansiedade. Mas somente 20 anos atrás deu-se início à classificação dos transtornos de ansiedade em síndromes bem delineadas e tratáveis. Quando a ansiedade se apresenta em episódios agudos, de duração limitada a alguns minutos, é denominada transtorno do pânico. Quando é persistente - acomete o indivíduo por quase todo o dia e na maior parte dos dias -, é qualificada de transtorno de ansiedade generalizada.

Por que é importante prestar atenção nos primeiros sinais do problema?
Cerca de 30% dos pacientes que sofrem da doença apresentam perda média mensal de seis dias produtivos e sensível perda na qualidade de vida. Não existem dados conclusivos de que o nível de estresse no ambiente de trabalho possa desencadear a doença. Os estudos sugerem que causas biológicas sejam preponderantes na manifestação da ansiedade generalizada.

Segundo critérios da Associação Americana de Psiquiatria, a ansiedade generalizada se caracteriza por uma preocupação excessiva com situações triviais do dia-a-dia, causando transtornos que chegam a durar mais de seis meses. A síndrome é acompanhada de outros sintomas: cansaço fácil, dificuldade de concentração, sensação de estar "ligado" ou "no limite", inquietude, irritabilidade, tensão, insônia, além de tremores, dores musculares, suor excessivo, aperto na garganta e sintomas depressivos.

Atualmente, a doença afeta algo em torno de 5% da população mundial. Segundo trabalhos conduzidos por pesquisadores holandeses, a ansiedade generalizada é mais freqüente em indivíduos idosos, podendo afetar até 8% da população nessa faixa etária. Quando não é tratada, tende a acompanhar dois terços dos pacientes durante a vida. A síndrome é duas vezes mais freqüente em mulheres do que em homens e afeta mais indivíduos divorciados e pessoas desempregadas. Não há relação comprovada entre a taxa de ansiedade generalizada e vida urbana, classe social e nível educacional.

Nos últimos anos, o refinamento dos critérios do diagnóstico e o estudo sistemático da doença trouxeram importantes avanços. Os pesquisadores constataram que, na maioria dos casos, a síndrome está associada a estados depressivos. Surgiram então tratamentos à base de antidepressivos -- entre os mais usados estão a venlafaxina e a paroxetina. Há também evidências de que sessões de terapia ajudam o tratamento.

O maior desafio para um paciente combater os transtornos causados pela doença está em conseguir identificar e dar a devida atenção aos sintomas, que nem sempre se manifestam da mesma forma. O esforço cabe tanto ao paciente quanto a seus familiares e amigos que podem ajudar a observar a recorrência de alguns sintomas. Somente um diagnóstico adequado é capaz de definir o tratamento específico que permite ao paciente levar uma vida normal e produtiva.

Fonte: Flávio Kapczinski, para a Revista Exame, em 2002.

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