terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Tempestade à vista: como controlar o medo no período de chuvas

Olhar para o céu e ser invadido por um sentimento de medo. Ter certeza que o dia terminará mal ou que desmarcar todos os compromissos e correr para casa é a melhor opção. No dois últimos meses, muitas pessoas se depararam com essas reações, e o motivo para o pânico quase coletivo tem certos fundamentos: a realidade nos grandes centros urbanos assolados pelo excesso de chuvas é presente quase todos os dias e não deixa ninguém esquecer que estamos todos à mercê da natureza, e quando esta se enfurece, os resultados podem ser catastróficos.

“Mas essa é uma possibilidade, não uma certeza”, afirma a psicóloga Cláudia Ballestero, presidente da Associação dos Portadores de Transtornos de Ansiedade (Aporta). “O que acontece é que algumas pessoas ficam apreensivas, mas outras desenvolvem o medo e isso pode levar à fobia – um medo que muitas vezes não tem uma base racional e que paralisa o indivíduo”, complementa.

Aprendizagem por modelos de comportamento

Basicamente o sentimento de apreensão deixa margem para o planejamento de saídas para a situação imaginada. No caso do medo, a situação pode ser acrescida de cores dramáticas e um final imaginário catastrófico. Pessoas ansiosas podem chegar ao extremo e desenvolver a fobia, que anula qualquer ação de enfrentamento, fazendo que a pessoa se isole para não se deparar com uma situação que ela acha não ter controle.

“Uma das formas que aprendemos a lidar com as situações na vida é por meio dos modelos. Nesse tipo de aprendizado, não é necessária a vivência pessoal, mas a observação dos modelos apresentados, das histórias de outras pessoas e das conclusões boas e ruins”, explica Cláudia.

No caso dos alagamentos e tragédias associadas às chuvas, essas histórias estão presente o tempo todo, em todos os lugares, seja na televisão, no rádio, nos jornais ou no relato de pessoas próximas (e de outras não tão próximas assim).

“Essa antecipação da situação catastrófica, que foi aprendida pela vivência alheia, gera uma série de ideias fixas e negativas, uma história mental com começo, meio e fim. Isso é observado especialmente nos indivíduos com predisposição para a ansiedade”, diz a psicóloga.

E esse sentimento de insegurança leva a uma esquiva que pode gerar uma paralisia da vida como um todo. Qualquer indício de chuva – e consequentemente da catástrofe que elas acham que pode acontecer – desencadeia essa situação, que pode acontecer em vários níveis.

Ciclo traumático

“Não é só a chuva em si, mas existem outras associações e traumas particulares paralelos: o indivíduo passa a pensar no dano econômico da perda de um bem de grande valor – como o carro – na segurança de familiares, no fato de estar anoitecendo – o que pode deixá-lo à mercê da violência urbana – e no comprometimento da própria saúde”, enumera Cláudia.

Esses comportamentos, alerta a psicóloga, também podem se refletir nos filhos, que acabam assimilando o estado de pânico e mesmo repassando para os colegas de escola. O pânico, dizem os especialistas, se espalha de forma similar aos vírus. Em casos extremos, pode levar à histeria coletiva.

A melhor coisa a fazer, indica a especialista, é ter uma visão racional do problema, não se deixar afetar apenas pelos fatos negativos que são apresentados. “Essas situações – os alagamentos – realmente acontecem, mas há muitas pessoas em São Paulo, por exemplo, que nunca tiveram problemas nesse período de chuvas. E há também aqueles que tiveram problemas menores, contornáveis, adaptáveis, como perder o carro, que pode ser algo muito ruim, mas não necessariamente é algo que se aproxime da morte ou da catástrofe”, diz.

Para a psicóloga, esses problemas devem ser enfrentados como situações de aprendizado, para compor um repertório de enfrentamento e que podem ajudar a lidar com problemas similares no futuro. Dessa forma, o medo e a fobia podem dar espaço à apreensão, um sentimento que pode ser bem mais positivo.

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