segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Violência e desespero dificultam chegada de mantimentos ao Haiti

O desespero e a violência au-mentam nas ruas do Haiti sete dias depois do terremoto que já matou pelo menos 70 mil pessoas, enquanto a comu-nidade internacional luta para diminuir os problemas imediatos e pensa na reconstrução a longo prazo.

A chegada dos caminhões com pacotes de ajuda quase sempre gera tumulto e caos, o que dificulta ainda mais a entrega de mantimentos.

O capitão Marco León Peña, do contingente boliviano da Missão da ONU no Haiti (Minustah), explica:

- Para nós, uma distribuição bem-sucedida de alimentos ou água é aquela na qual ninguém sofre danos. Nunca anunciamos o lugar onde vamos repartir a comida para evitar tumultos.

A ajuda não chegou a muitos pontos de concentração de desabrigados, como é o caso dos milhares de refugiados de Peguyville, na capital, que depois do sismo de 7 graus na escala Richter só receberam um caminhão com água potável.

Muitos desabrigados se queixam de que não receberam nenhuma assistência, apesar do aeroporto de Porto Príncipe receber verdadeiros engarrafamentos de aviões com cargas com mantimentos e remédios.

Alejandro López-Chicheri, chefe de comunicações da agência para a América Latina do do Programa Mundial de Alimentos (PMA), comenta:

- É preciso compreender, a coordenação 'desabou', assim como nossos edifícios do PMA e da própria Minustah.

Mas os desabrigados, que somam aproximadamente 3 milhões em todo o país, não compreendem. Bobien Ebristout, que está em um barraco feito com quatro lonas em uma colina empoeirada de Peguyville, onde o cheiro de excrementos toma todos os ambientes, reclama:

- Só sei que em três dias comi um prato de arroz que recebi de uma vizinha.

Esta situação, em parte, faz com que em Porto Príncipe se repitam com cada vez maior frequência cenas de grupos que roubam todo tipo de mercadorias em comércios fechados ou armazéns.

Centenas de jovens, armados com barras de ferro ou madeira e alguns com facas, ocuparam no domingo uma importante avenida e forçaram a entrada de vários armazéns, nenhum deles de produtos comestíveis, em uma das principais vias do centro. Muitos deles protagonizaram confrontos aos socos e empurrões em plena rua pela repartição do material, mas sem chegar a utilizar suas armas, perante o olhar de vários fotógrafos da imprensa internacional. Os saques ficam totalmente impunes, já que os militares da ONU que percorrem as ruas da capital passam pela frente sem intervir, enquanto a polícia haitiana dispara para o alto, sem sucesso.

Segundo a Rádio Metropole, as autoridades mataram dois saqueadores. Além dos desabrigados, a ONU se preocupa com segurança de seu pessoal, algo que desacelera as operações de ajuda.

De fato, o Conselho de Segurança da ONU estudará nesta segunda-feira (18) em reunião extraordinária ampliar o número de tropas da Minustah, liderada pelo Brasil e atualmente integrada por 6 mil capacetes azuis e 2.200 policiais, segundo o ministro brasileiro de Relações Exteriores, Celso Amorim.

O terremoto de 7 graus na escala Richter aconteceu às 19h53 de Brasília da terça-feira (12) e teve epicentro a 15 quilômetros da capital haitiana, Porto Príncipe. O Governo do país caribenho confirmou que pelo menos 70 mil corpos já foram enterrados.


Fonte: R7

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