
A quantidade de reformas concedidas pela Polícia Militar no ano passado a militares doentes dá uma noção da gravidade do problema: 28 dos 40 policiais aposentados em 2009 tiveram comprovada a ocorrência de algumas das patologias listadas no capítulo 5 da Classificação Internacional de Doenças (CID-F). O capítulo trata dos transtornos mentais e do comportamento, sejam eles orgânicos, os relacionados ao humor e ao estresse ou mesmo os provocados pelo abuso de substâncias de psicoativas, como álcool e drogas, por exemplo.
De acordo com dados da Junta Médica da Polícia Militar, dos 779 PMs atualmente acompanhados pelo órgão, 53,9% (420) apresentam transtornos mentais.
Segundo a capitã Denilda Carvalho da Silva Colotetyo, secretária da junta, 161 policiais foram considerados aptos para o trabalho, ainda que em tratamento, e passaram a desempenhar funções administrativas. Porém, 259 PMs estão incapacitados de trabalhar, gerando um prejuízo incalculável para a Segurança Pública.
Quando o afastamento do policial se dá por motivos psiquiátricos (independentemente da quantidade de dias), ele fica impedido de portar armamento e de dirigir os veículos da PM, o que significa menos agentes de segurança em operação nas ruas. Segundo explica a capitã da PM, para voltar a trabalhar, esse policial precisa passar por uma testagem que lhe devolverá, ou não, o direito de usar a arma. Se receber alta médica mas o teste considerar o militar inapto, ele é automaticamente lotado nas funções administrativas da Polícia Militar. “Em média, 30% são reprovados nos testes”, comenta capitã Denilda.
Forças especiais
Chefe do Departamento de Psicologia da Polícia Militar de Goiás, a major Miriam Terezinha Nogueira Belém ressalta que policiais das forças especiais da PM, como a Rotam e o Choque, estão entre os mais suscetíveis a problemas de ordem mental e comportamental graves, pela própria natureza das funções que exercem. De acordo com a psicóloga, em 2009 (de janeiro a novembro), o serviço atendeu cerca de 2 mil policiais militares no serviço de psicologia. Desse total, 90%, em média, foram encaminhados por seus superiores ou por profissionais de saúde e 10% procuraram o serviço de forma espontânea.
Dentre as principais causas de adoecimento dos policiais, explica, estão a depressão, a reação aguda ao estresse laboral (a chamada síndrome de burnout) e os transtornos decorrentes do uso abusivo de álcool e drogas. “A maioria dos policiais busca ajuda tardiamente, quando já há comprometimento das funções na polícia”, afirma. Major Miriam lembra que a partir do ano passado a Polícia Militar passou a desenvolver um programa de diagnóstico e prevenção de doenças que avaliou, em 2009, mais de 6 mil policiais.
“Os transtornos mentais e do comportamento são os que têm aparecido com mais frequência nestas avaliações”, ressalta a policial militar. Segundo frisa, o risco iminente de morte aliado às pressões e cobranças dos superiores e da sociedade e à carga de trabalho excessiva são alguns dos fatores que tornam estes trabalhadores mais suscetíveis aos problemas de ordem psiquiátrica. Para a psicóloga, um dos desafios das corporações é garantir a validade dos exames psicológicos e psiquiátricos realizados em candidatos aprovados em concursos para a polícia. Reprovados nesses testes, muitos desses candidatos garantem sua vaga por meio de decisões judiciais.
Fonte: O Popular
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