terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O desastre no Haiti e os impactos emocionais nos sobreviventes

Desastres são inesperados, inten-sos e avassaladores. Em alguns casos, não há sinais visíveis de quaisquer problemas psicológicos. Mas o mais comum é que pessoas que tiveram uma experiência traumática tenham reações emocionais intensas. Entender as respostas normais a esses eventos únicos pode ajudar você – ou alguém conhecido – a lidar com esses sentimentos, pensamentos e comportamentos de forma efetiva, e ajudá-lo a recuperar seu objetivo de vida.

O que acontece às pessoas logo após um desastre ou evento traumático?

O choque e a negação são normalmente a resposta típica a esses eventos, especialmente logo após o ocorrido. Ambas as emoções são reações de proteção.

O choque é um súbito e intenso transtorno emocional que deixa seus sentimentos paralisados ou confusos. A negação envolve você acreditar que nada de tão estressante está acontecendo, ou não sentir a total intensidade do evento. Você pode se sentir temporariamente anestesiado ou desconectado da vida.

Assim que o choque passa, as reações variam de pessoa para pessoa. Alguns sentimentos, entretanto, são respostas normais a um evento traumático.

• Os sentimentos se tornam intensos e imprevisíveis.

A pessoa pode ficar mais irritada que o normal, seu humor pode variar dramaticamente. É possível, normalmente, sofrer de ataques de ansiedade e de nervosismo, ou ficar depressivo subitamente.

• Pensamentos e padrões de atitudes são afetados diretamente pelo trauma.

Você pode repetir ou revivenciar memórias do evento. Esses “flashbacks” podem ocorrer sem razão aparente e pode levar a reações físicas como suor ou taquicardia. As pessoas podem ter dificuldade para se concentrar ou tomar decisões, ou então se tornarem mais dispersas. O padrão de sono e de alimentação também ficam desequilibrados.

• Repetições de reações emocionais também são comuns.

Nas datas de “aniversário” do evento, como de um mês ou de um ano, podem desencadear memórias e experiências traumáticas. Esses gatilhos emocionais podem se repetir por anos após o acontecido.

• Relações interpessoais se tornam sensíveis.

Os conflitos, como brigas em família ou com colegas de trabalho, se tornam constantes. Em resposta a isso você pode se tornar mais isolado e evitar atividades corriqueiras.

• Sintomas físicos são normais quando se passa por situações de estresse intenso.

Dores de cabeça, náusea e dores no peito precisam ser acompanhadas de perto por um profissional de saúde. Condições médicas pré-existentes podem piorar.

Como as pessoas reagem a essas situações com o passar do tempo?

É importante ter em mente que não há uma “padronização” de reações às situações de estresse pós-traumático intenso. Algumas pessoas reagem imediatamente, enquanto outras respondem à longo prazo aos eventos sofridos ou presenciados. É possível que algumas pessoas levem meses ou anos para começarem a mostrar algum indício de transtornos mentais. E alguns ficam a mercê de sentimentos ruins por muito tempo, enquanto outras se recuperam rapidamente.

Essas reações podem mudar durante o tempo. Algumas que sofrerem com um trauma inicialmente podem aproveitar isso para tirarem forças para ajudar outras pessoas, e podem se tornar depressivas ou desmotivadas muito tempo depois.

Uma série de fatores tendem a afetar a intensidade e a duração da recuperação. Isso inclui:

• Intensidade do evento e perdas envolvidas.

Situações que duram mais ou apresentam maiores riscos, ou quando envolvem a perda da vida de pessoas próximas ou de todos os objetos pessoais e propriedades, normalmente levam mais tempo para serem resolvidos.

• A habilidade pessoal de lidar com situações desafiadoras emocionalmente.

Indivíduos que já lidaram com outros eventos traumáticos e circunstâncias de estresse intenso, podem lidar mais facilmente com o trauma.

• Outros eventos estressantes anteriores à experiência traumática.

Indivíduos que já lidaram com situações emocionalmente desafiadoras, como doenças graves, podem ter respostas mais intensas a novos desastres e provavelmente, precisarão de mais tempo para se recuperarem.

Como cuidar de si e da própria família

Há uma série de atitudes que podem ajudá-lo a restaurar seu bem estar emocional e a sensação de controle após um desastre ou uma experiência traumática.

• Se dê algum tempo para pensar sobre o que ocorreu.

Antecipe as dificuldades, mas permita-se sofrer com as perdas imediatas. Tente também ser paciente com as suas próprias mudanças emocionais. Isso tudo é natural.

• Procure pela ajuda de pessoas que possam ouví-lo e ajudá-lo emocionalmente.

Mas lembre-se que as pessoas próximas que passaram pela mesma situação talvez não sejam as mais indicadas para tratar do assunto.

• Converse sobre seus sentimentos com sua família ou com amigos próximos ou então faça um diário.

• Tente encontrar grupos de ajuda de pessoas que passaram por situações similares.

A discussão em grupo, com pessoas com os mesmos problemas e acompanhados por profissionais pode lhe devolver a sensação de pertencer a algo maior.

• Cuide da sua própria saúde.

Tenha hábitos de alimentação saudáveis, faça exercícios e experimente técnicas de relaxamento. Evite também o uso álcool e drogas.

• Estabeleça rotinas.

Isso é importante ter a sensação de normalidade.

Quando devo procurar um profissional?

Algumas pessoas conseguem lidar com as demandas físicas e emocionais após um evento traumático por conta própria. Mas não é comum. Diversos problemas sérios ligados à saúde física e mental, persistem e interferem na rotina diária durante bastante tempo.

Os psicólogos podem ajudá-lo na reeducação mental para lidar com o estresse extremo. Esses profissionais irão encontrar estratégias construtivas para que você consiga lidar com o impacto emocional da situação.

Entre as crianças, reações agressivas e contínuas, problemas na escola, preocupação excessiva, isolamento e outros sinais de ansiedade ou dificuldades emocionais indicam a necessidade de um profissional. Isso tudo é parte do trauma sofrido e tanto as crianças quanto seus pais precisam procurar um profissional de saúde mental para lidar com o problema e levar a vida adiante.


Fonte: UOL

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Obrigado por acessar o Psicoterapia Brasil!
Sua opinião é importante, será muito bem recebida e esperamos poder contar com ela sempre!