
Em sete anos, o total de jovens envolvidos com o tráfico mais que dobrou. Em 2002, eles eram cerca de 7.000, segundo pesquisa da mesma entidade.
O levantamento, a que o R7 teve acesso com exclusividade, mostra ainda que muitos deles (4.198) começam a carreira aos oito anos, como "olheiros" ou "fogueteiros". Eles são os responsáveis por vigiar a favela e avisar aos criminosos sobre a chegada da polícia ou bando rival. Na hierarquia do tráfico, em seguida vem o "avião" (transporta drogas), o "soldado" (com direito a armas para possíveis confrontos), o "vapor" (controla a venda de drogas em um ponto), o "gerente" (controla pontos de venda de drogas), o "chefe" (coordena todo tráfico da favela) e o "chefe de facção" (coordena o tráfico de várias favelas).
A maior parte dos menores de idade entrevistados recebe cerca de R$ 300 por semana. Nas áreas analisadas não foi encontrado nenhum jovem com menos de 18 anos que se declarasse "chefe".
A Penha, bairro da zona norte que comporta as 12 violentas favelas do Complexo do Alemão, é a região que concentra o maior número de menores de idade que trabalham para o tráfico: 3.245. A região tem 2.495 menores de 18 anos armados, os "soldados". Desses, 158 são mulheres e 130 têm menos de 12 anos. Os não armados somam 750.
Cercada por 17 favelas e conhecida por "ilha da zona norte", a Tijuca está em segundo lugar com 2.286 adolescentes aliciados pelo crime. A metade possui armas.
A pesquisa revela também que os principais motivos para essas crianças e adolescentes se envolverem com o tráfico são status, aventura e dinheiro. Um dos menores que trabalha para o tráfico, mas também participa de atividades de recuperação em ONG's (Organizações Não Governamentais), contou à reportagem do R7 que é fácil ser aliciado pelo mundo das drogas.
- Quando a gente vai se tornando adolescente, começa a ter vaidade. Quer ser importante, ter roupa nova, tênis, cordão de ouro, mulher. Nossa realidade na favela é ser pobre e sofrer. Aí vem o tráfico de braços abertos e com todas as condições para o sonho acontecer. É muito difícil se segurar e é por isso que tem muita criança de sete, oito anos na fila para fazer algum serviço também.
Ex-soldados em ação
O mapeamento do Ibiss foi realizado no final de 2008 e atualizado em 2009. Cerca de 35 ex-soldados, como são chamados os jovens que abandonaram o crime após se engajarem em trabalhos sociais, foram até favelas de 11 áreas de risco da região metropolitana e entrevistaram essas crianças e adolescentes durante três meses.
O holandês Nanko Buuren, que fundou a instituição há 20 anos e desde então desenvolve ações de educação em saúde nos segmentos mais marginalizados do Rio, explicou que os ex-soldados não tiveram dificuldades para conseguir os depoimentos porque eles já conhecem as "leis" e a realidade dos moradores de favelas.
Os jovens pesquisadores ainda convenceram alguns adolescentes a também participarem de projetos de "resgate", como o "Soldado Nunca Mais". Realizado pelo Ibiss desde 2002, o programa já conseguiu retirar 1.432 menores de idade do mundo do tráfico por meio de estudo, trabalho e atividades de conscientização. Cerca de 5% voltaram para a criminalidade, e os demais foram matriculadas em escolas. Alguns já estão na universidade e a maioria desenvolve atividade social junto à ONG.
Fonte: R7
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