segunda-feira, 1 de junho de 2009

Condutas típicas desafiam educadores

Muitos pais ficam aflitos ao se de-parar com filhos que apresentam problemas de com-portamento, defi-ciência de apren-dizagem e péssimo relacionamento com as outras crianças da mesma idade ou com os professores. Uma das primeiras reações é pensar em déficit de aprendizagem ou hiperatividade. Porém, os especialistas alertam que nesses casos o ideal é consultar profissionais de várias áreas, pois a criança pode apresentar o que eles chamam de condutas típicas, ou segundo a denominação do Ministério da Saúde, transtorno global do desenvolvimento.

Crianças de até 12 anos que são muito irritadas, violentas, dispersas, falam e caminham pela sala de aula ou ficam o tempo todo no seu canto, sem conversar com ninguém, podem apresentar o transtorno. Segundo a psiquiatra, psicanalista e especialista em condutas típicas Regina Lise, como a doença é um distúrbio que apresenta uma grande variedade de comportamentos, é comum que se cometa o erro de apenas medicar sem que se tratem outros aspectos.

Regina explica que, nesses casos, é preciso o acompanhamento de um psicólogo, pois o problema pode estar na educação e no convívio familiar. “É preciso que se pare e pense como família e escola estão agindo com ela. Geralmente, ela apresenta dificuldade de lidar com a realidade, por isso é preciso muita conversa ao invés de apenas medicação”, afirma. Para um tratamento completo, os professores devem estar preparados e acompanhar as sessões de terapia junto com os pais.

Atendimento

Na Escola Municipal Professora Egipciana Swain Paraná Carrano, em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, os alunos são atendidos em salas especias no contraturno. Em um período eles estudam na escola regular e no outro, três vezes por semana, ficam em classes voltadas para o aluno com condutas típicas. Recebem atendimento de professor especializado, psiquiátrico e psicológico.

A professora e responsável pelo atendimento de condutas típicas na Secretaria Municipal de Educação de Araucária, Marília Cordeiro, diz que as crianças são diagnosticadas e encaminhadas para a escola. São 12 atendidas pela manhã e dez à tarde. Há uma fila de espera, suficiente para formar mais uma turma. O serviço é uma parceria entre as secretarias de Saúde e da Educação e funciona há nove anos.

O torneiro mecânico Edeassis Castorino Rosa percebeu que seu filho Eduardo, hoje com 9 anos, apresentava um comportamento diferente desde que nasceu. Agitado, o menino não conseguia se concentrar, não organizava as palavras na hora de falar e não tinha sentido de direção. “Ele era muito alterado. O tempo foi passando e a gente não sabia o que ele tinha. Nosso erro foi ter colocado na creche e demorado para procurar ajuda”, lamenta o pai.

Há pouco menos de três anos Eduardo foi encaminhado para a Escola Egipciana, onde participa da atividades de contraturno e recebe acompanhamento médico e psicológico. Edeassis conta que seu filho progrediu: consegue se comunicar, acalmou-se e melhorou a concentração.

Segundo ele, o problema de Eduardo se agravou quando seus pais terminaram o casamento. O período foi conturbado e a mãe apresentava problemas psicológicos.

A psicóloga Ione Maria Neumann, que faz parte da equipe de atendimento, diz que o trabalho tem dado bons resultados. Em média, o tratamento dura de dois a três anos. “Vários alunos tiveram alta e agora só frequentam o ensino regular. Claro que o tempo depende de cada criança, mas se o trabalho for bemfeito entre ela, sua família e a escola, a chance de dar certo é enorme”, afirma.

As crianças que apresentam o transtorno global do desenvolvimento não possuem nenhum tipo de deficiência mental, por isso não precisam de escola especial. Podem estudar no ensino regular e apenas fazer o acompanhamento em outro turno. Regina diz que elas apresentam sofrimento psíquico e que muitas vezes não sabem agir de outra forma. “Os pais geralmente têm dificuldade em admitir que a criança sofre e isso é um complicador para procurar ajuda”, comenta.

Fonte: Gazeta do Povo

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