Rio Preto tem 228 pacientes em tratamento para controlar o medo, alucinações e mania de perseguição, sintomas típicos da esquizofrenia, doença retratada na novela Caminho das Índias, em exibição na Rede Globo. Os personagens Ademir e Tarso, interpretados pelos atores Sidney Santiago e Bruno Gagliasso, portadores do distúrbio, vivem em mundos divididos pela riqueza e a pobreza e mostram duas formas de encarar a doença.
Enquanto a família de Ademir busca ajuda, a de Tarso nega o problema. Em Rio Preto, Luís Duarte Gasparini, 48 anos, luta contra a esquizofrenia há 30 anos e acaba de vencer mais um round. Ele, que já ficou internado por cerca de 50 vezes nesse período, recebeu alta na última terça-feira, após passar dois meses internado no Hospital Adolfo Bezerra de Menezes. Atualmente, a instituição trata de 28 pacientes com a doença.
Gasparini ouve vozes desde pequeno. Ele diz que os ruídos internos ocorrem o tempo todo em seu pensamento. “Esses ruídos trazem várias histórias e minha mente começa a pensar sobre muitos assuntos de uma vez. Às vezes penso porque as pessoas são carecas, depois como algumas são loiras, gordas, magras e assim por diante, numa incrível confusão mental. Isso me deixa irritado”, disse ao Diário um dia antes de sair do hospital. Com um sorriso triste e olhos fixos na janela, ele relembra que teve a última crise logo após a morte da mãe, no final do ano passado. “Ela cuidava de mim e tentava me dar os remédios. Com minha mãe eu me sentia seguro. Não sei como vai ser minha vida sozinho.” Apesar de não gostar de morar no hospital, Gasparini acredita que não vai conseguir viver sem os cuidados médicos e que teme a discriminação do lado de fora.
“Eu sei que vou ficar só uns 15 dias lá fora. Sozinho eu não tomo o remédio porque dói. Além disso, as pessoas me chamam de louco na rua. Não gosto quando isso acontece. Vou acabar voltando pra cá.” O psiquiatra Hubert Eloy Richard Pontes, coordenador do Programa Municipal de Saúde Mental, diz que a esquizofrenia é um transtorno no funcionamento cerebral, sem causa conhecida que se manifesta com alterações no comportamento como isolamento social, fobias, ansiedade, relacionamento afetivo limitado. “Os primeiros sintomas geralmente aparecem no fim da adolescência e no começo da idade adulta, entre os 16 e 18 anos. Em casos muito raros é possível os sintomas aparecerem ainda na infância”.
Abandono
Segundo o médico, o tratamento correto pode fazer com que muitos pacientes consigam levar um vida normal. Ele diz que um dos principais problemas que levam ao surto e à piora do quadro é o abandono do tratamento. “Se o paciente não acreditar que está doente, ele poderá achar que não precisa de medicamentos ou que alguém está tentando matá-lo com os remédios.
Se o pensamento da pessoa com esquizofrenia estiver muito desorganizado, ela pode não lembrar de tomar os medicamentos. Por isso a ajuda da família é fundamental”. O médico explica que pacientes em surto se tornam agressivos e podem até matar uma pessoa. É o caso de Osmar Magalhães de Souza, 44 anos. Ele está internado no Bezerra desde 2002, quando veio da Casa de Custódia de Franco da Rochal.
No hospital da Grande São Paulo, Magalhães cumpriu 22 anos de prisão por assassinar a mãe durante um surto esquizofrênico. Desde que chegou à unidade, Souza foi visitado apenas uma vez pelo irmão. Depois disso, nunca mais foi procurado pelos familiares.
Quando questionado sobre os motivos que o levaram para o manicômio judiciário, Souza alega que apenas ameaçou a mãe com uma faca. “Tenho dois irmãos e duas irmãs. Quando sair daqui quero reencontrar todo mundo.” Magalhães diz que sofre com a doença desde pequeno, mas não sabe dizer ao certo com que idade os sintomas começaram a surgir.
Caps é referência para o tratamento
Dos pacientes que sofrem com a doença na cidade, 200 deles realizam tratamento no Centro de Atendimento Psicossocial II (Caps) Adulto Bom Jardim. Lá os pacientes têm atendimento personalizado, com terapia em grupo e trabalhos manuais. De acordo com Cléoma Aparecida Valêncio Torrano, gerente do Caps, o atendimento é feito apenas para pacientes que passam por transtornos severos e persistentes. Ela explica que os pacientes passam por uma análise com uma equipe multidisciplinar.
“A equipe avalia a situação do paciente e elabora o tipo de tratamento, que pode ser intensivo, semi intensivo e não intensivo, feito com associação de medicamentos e terapias - individual ou em grupo, dependendo do caso”. A atenção da família é fundamental. “No primeiro surto o paciente deve ser levado para o pronto-socorro. Depois, o acompanhamento será feito pela UBS. Os médicos vão avaliar o caso e encaminhá-lo para o Caps ou o Ambulatório de Saúde Mental, em casos menos graves da doença.
Fonte: Diário da Região
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