No dia 30 de dezembro de 2004, a boate República Cromagnon figurava entre as principais atrações noturnas da cidade de Buenos Aires. A razao disso era o show da banda nacional 'Callejeros', famosa entre os jovens portenhos, que seria realizado na danceteria.
A boate encheu. Homens, mulheres, em sua grande maioria, adolescentes, lotavam as dependências da República.
Por volta das 23 horas, um morteiro aceso por um grupo de jovens foi lançado em direção ao teto, queimando uma espécie de rede decorativa, de material sintético. O fogo logo foi propagado, produzindo uma nuvem de fumaça tóxica que infestou, em segundos, todo o espaço.
Sufocando com o ar irrespirável, milhares de pessoas tentaram fugir desesperadas, mas, em meio a dificuldade de se locomover numa boate superlotada, no escuro e sob fumaça, se depararam com a única porta de emergência trancada e, apenas as que tiveram sorte, conseguiram sair por uma das cinco portas de acesso do local, pois as outras estavam fechadas.
O resultado não podia ser outro: no fim daquela noite, cadáveres estavam espalhados pelo chão da boate; dezenas de jovens carregavam em seus ombros amigos desmaiados ou asfixiados. Outros, simplesmente corriam sem direção, ainda em estado de pânico.
Cerca de oito batalhões do corpo de bombeiros foram acionados, mas, ao chegar, mais de 170 pessoas já estavam mortas. Outras 715 estavam feridas, muitas em estado grave.
O trabalho dos mais de 600 policiais, bombeiros, médicos e voluntários envolvidos na operação certamente salvou vidas, mas não foi suficiente para impedir a morte de mais 24 pessoas, entre os que estavam feridos. Ou seja, o trágico panorama final foi de 194 mortos, entre eles muitos menores de idade. A maioria das vitimas morreu devido a problemas respiratórios em função da inalação de gases tóxicos
Parentes das vítimas associam tragédia à administração corrupta do estabelecimento
Segundo as autoridades, havia cerca de 2000 pessoas na boate República Cromagnon na noite do incêndio. No entanto, testemunhas afirmaram que havia entre 3000 e 5000 pessoas, excedendo a capacidade do local, cujo limite era de 1500 pessoas.
Além da superlotação, as portas de emergência trancadas e o teto de material inflamável foram as principais causas da tragédia. E, por trás desses detalhes que, na hora, fizeram toda a diferença, estava a “mão” dos responsáveis pelo estabelecimento.
Pais, mães, irmãos e grande parte da sociedade argentina, que, ainda hoje, está traumatizada com o acontecimento, protestaram por punição aos responsáveis pela boate e organizadores do evento. Acredita-se que a administração corrupta e negligente da boate tenha permitido tal incidente.
De acordo com o matéria do site El Clarín, a boate não estava habilitada para receber eventos massivos como o daquele dia. Não havia controles periódicos sobre sua estrutura e, nas suas entradas, não eram feitas revistas, o que permitiu que jovens entrasse com o morteiro, alem do ingresso de menores de idade.
Para assegurar o nao fechamento do estabelecimento, a administraçao da República de Cromagnon, através de trâmites burocráticos, conseguiu documentos que respaldavam a segurança do local. O problema é que essa realidade nao saía do papel.
Todas essas falhas foram somadas à ganância do dono da boate, que permitiu a entrada do triplo de pessoas no estabelecimento para faturar mais dinheiro. Hoje, Omar Chabán é o único dos acusados que está preso. Ele e mais 14 acusados estão sendo julgados, num processo que é amplamente divulgado pela mídia argentina. A maior parte das 350 testemunhas que foram chamadas para depor é formada por sobreviventes da tragédia. Veja seus depoimentos no site do El Clarín
Arquiteta critica falta de projetos de prevenção de riscos
Estudante de pós graduação em Simulação e Modelação de Sistemas da Universidad de Los Andes, a arquiteta Klaudia Laffaille criticou a falta de implementação de sistemas de prevenção de risco em locais como a boate em que ocorreu o incêndio.
Em artigo publicado no site TodoArquitetura, Laffaille disse que não se fazem estudos preventivos mas post-eventivos. “Apenas depois da catástrofe surge o interesse em se fazer uma lista das possíveis implicações e como certas mudanças poderiam ter evitado ou diminuído a gravidade das conseqüências.”
Para ela, é preciso que as medidas preventivas e as ações a seguir durante um evento como o que ocorreu na Republica de Cromagnon sejam de conhecimento publico e que o estabelecimento siga uma série de normas que implicam inclusive a forma como o mesmo foi desenhado. “O desenho pode ter uma lógica conceitual que oriente o usuário até as saídas; um desenho claro e fácil de compreender para os “habitantes” da edificação sem sobrepor-se às qualidades formais, conceituais e funcionais da edificação.”
Fontes: La nación; El Clarín; BBC Mundo e TodoArquitectura.
Autor: João Reis (jornalista) 03/09/08
Autor: João Reis (jornalista) 03/09/08
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