sexta-feira, 29 de junho de 2012

Audiência sobre 'cura gay' tem bate-boca e confusão

Projeto de autoria de deputado do PSDB, da bancada evangélica, abre caminho para psicólogos "tratarem" homossexuais

Gritos, bate-boca e confusão marcaram ontem a audiência pública para discutir o decreto legislativo 234/11, conhecido como projeto de Cura Gay. De autoria do deputado João Campos (PSDB-GO), da bancada evangélica, a proposta abre caminho para que psicólogos ofereçam "tratamento" para homossexuais mudarem a orientação sexual. Desde 1999, norma do Conselho Federal de Psicologia (CFP) proíbe que profissionais façam essa promessa para os pacientes.

O texto de Campos propõe ainda a retirada de outra proibição feita pelo CFP: a de profissionais usarem a mídia para reforçar preconceitos a grupo de homossexuais. A audiência de ontem, convocada pelo relator, Roberto de Lucena (PV-SP), deveria ter cinco debatedores, mas apenas dois compareceram.

O CFP não aceitou o convite por considerar a composição da mesa pouco equilibrada. O esvaziamento não reduziu a temperatura da reunião. A polêmica ganhou força depois de a psicóloga Marisa Lobo defender o direito de psicólogos atenderem pacientes que busquem mudar a orientação sexual. Ela disse acreditar ser possível que o paciente mude sua orientação se quiser.

Constrangimento.

O coordenador da Frente Parlamentar Mista pela Cidadania LGBT na Câmara, deputado Jean Wyllys (Psol-RJ), disse ter ficado "constrangido" com a defesa da psicóloga. Marisa revidou, foi advertida mas, mesmo assim, não baixou o tom. "Não ofendi o deputado. Ele é que tentou me diminuir, tentando afirmar que minhas posições não podem ser consideradas só porque sou religiosa." O tumulto se formou.

Um bate-boca entre Marisa e representantes do Movimento Gay se instalou: "Ser cristão não significa ser alienada", disse a psicóloga para uma plateia que revidava chamando-a de "barraqueira" e "fundamentalista".

O duelo só não aumentou porque integrantes do movimento saíram quando Jair Bolsonaro (PP-RJ) começou a falar. "Quem gostaria de ter um filho gay?", perguntava. Falas do autor do projeto também eram interrompidas pelos gritos de apoio do grupo de religiosos.

No final, mais um momento de embate. Integrantes do movimento gay presentes à reunião começaram a ler o texto do manifesto do Conselho Federal de Psicologia na íntegra provocando nova confusão. Eles foram retirados do plenário da comissão por seguranças da Casa.

Luth Laporta, da Companhia Revolucionária Triângulo Rosa, que esteve na audiência, disse que não havia nenhuma isenção dos deputados durante a discussão. "Foi uma audiência feita pela comunidade evangélica para comunidade evangélica. Não houve discussão democrática."

Informação veiculada no jornal O Estado de São Paulo.

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