Cientistas alertaram que os esforços mundiais para conter o aquecimento global caminham para mais uma derrota. Juntos, os governos de todo o mundo precisam reduzir as emissões totais de carbono em mais de 8% até 2020 — em comparação com os níveis de 2010 — se quiserem cumprir a meta de restrição da elevação da temperatura estabelecida em 2009, na Dinamarca, durante a 16ª Conferência das Partes (COP-16). Apesar de não determinar prazos, o chamado Acordo de Copenhague fixou que a temperatura do planeta não poderia ultrapassar 2ºC da observada no período pré-industrial.
Em um artigo publicado no domingo passado na revista científica Nature Climate Change, os pesquisadores liderados por Joeri Rogelj, do Instituto de Ciência Climática e Atmosférica de Zurique, na Suíça, revisaram modelos de computador tendo como base a meta dos 2ºC. Nos cenários que consideraram uma "probabilidade" acima de 66% de que a temperatura na Terra se mantenha abaixo dos 2ºC, as emissões globais teriam seu pico entre 2010 e 2020, ano em que as emissões teriam que ser de 44 bilhões de toneladas (ou gigatoneladas) de carbono equivalente. Esse volume representaria uma redução de 8,5% com relação a 2010, quando as emissões globais foram de 48 gigatoneladas.
As emissões teriam que continuar caindo depois disso. "Se os mecanismos necessários para possibilitar um pico precoce das emissões globais, seguido de reduções intensas, não forem implantados, há um risco significativo de que a meta dos 2ºC não seja alcançada", alertaram os estudiosos.
Aumento
O carbono equivalente é uma medida empregada para mensurar as emissões de todos os gases de efeito estufa, que variam do dióxido de carbono (liberado na queima de combustíveis fósseis) ao metano, liberado no desmatamento e em processos agrícolas, por exemplo. Segundo a Agência Internacional de Energia (AIE), em 2010 as emissões exclusivas de CO2 foram as maiores da história, subindo fortemente após uma queda brusca em 2009, atribuída à crise financeira internacional.
O Acordo de Copenhague, esboçado por um pequeno grupo de líderes mundiais, salvou no último minuto a conferência climática de um fracasso considerado certo por especialistas. O documento não conseguiu o endosso dos 194 países-membros da Convenção-quadro das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (UNFCCC) e recebeu críticas por ser considerado antidemocrático, enquanto grupos ambientalistas afirmaram que sua abordagem voluntária (sem impor obrigações e metas aos países) não produziria os cortes de carbono necessários.
Por outro lado, os cientistas se mantêm cautelosos quanto à meta de 2ºC, afirmando que ela não é garantia de segurança. Muitos dizem que já se percebem mudanças perceptíveis na neve e na cobertura de gelo e nos padrões reprodutivos de espécies migratórias por causa de um aquecimento já observável, de aproximadamente 1ºC desde 1900.
Publicado no jornal Correio Braziliense.
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