terça-feira, 18 de outubro de 2011

Artigo - Desastres no Rio.

Cadê o dinheiro das vítimas?

Dados do relatório final das CPIs sobre as chuvas da Assembleia do Rio e da Câmara Municipal de Petrópolis, sobre a tragédia ocorrida na Região Serrana, em janeiro, informam:
Mais de 900 mortes, 71 delas em Petrópolis;
Continuam desaparecidas: 241 pessoas;
Desabrigados: 8.908. Em Petrópolis: 187 famílias;
Desalojados: 23.118. Em Petrópolis, são 6.956;
Deslizamentos de encostas ultrapassam os 770, sendo que, em Petrópolis, houve registro de 74 encostas atingidas.

A economia também está bastante afetada: 84% dos empresários da Região Serrana sofreram com o temporal, o que representou R$469,29 milhões em prejuízos. Na área industrial, 68% tiveram problemas, totalizando R$153 milhões de perdas.

Há a previsão de que a região receba R$1,4 bilhão, montante necessário para ser totalmente recuperada. Para Petrópolis está prevista a aplicação de R$312 milhões destes recursos. A expectativa é que sejam construídas 1.340 unidades habitacionais pelo programa Minha Casa Minha Vida. No entanto, o início das obras está previsto só para fevereiro de 2012. Mais de um ano depois da tragédia!

E os "por ques" continuam: por que até hoje esses recursos não chegaram? Por que até hoje as famílias que foram atingidas pelo desastre ainda não têm solução para os seus problemas? Por que soluções, que deveriam ser práticas, como o desassoreamento dos rios e a orientação devida às famílias, não acontecem?

E aos inúmeros "por ques" a resposta do poder público, presente na 4ª Audiência Pública promovida pelo bispo de Petrópolis, dom Filippo Santoro e a Frente Pró-Petrópolis, depois dos 8 meses da tragédia foi: "A burocracia emperra (sic)."

A conclusão, entretanto, é outra e bem objetiva: "Se os governos se preocupassem em criar reais planos de emergência e estrutura logística poderiam, sim, ter evitado ou minorado a perda de tantas vidas e de bens."

Está claro que o poder público foi, e continua sendo, omisso, displicente em fazer cumprir as normas que regulam a ocupação e uso do solo urbano, de forma a evitar construções irregulares em áreas de risco. Culpado em não criar projetos habitacionais, para dar as mínimas condições de moradia à população que, todos sabem, sem ter alternativa, sobe os morros para poder ter um teto. Dinheiro público existe para tanto, o que falta é gestão clara, compromisso ético com o bem público, projetos benfeitos.

Quando olhamos o passado, é difícil acreditar que há 153 anos Petrópolis já sofria com as chuvas. Em 1858, a cidade já penava com deslizamentos e mortes. Num desses momentos, o imperador D. Pedro II e toda a comitiva imperial ficaram impedidos de chegar ao palácio e precisaram voltar para o Rio de Janeiro.

Este círculo de dor, que piora a cada ano, com mais pessoas sofrendo, está longe de ter um fim?

Autor: Maria Helena Arrochellas
Publicado no jornal O Globo.

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