Esquizofrenia sem mitos
Diferentemente da abordagem na novela das seis, os avanços nos tratamentos permitem que o portador da doença tenha vida normal
Qual é a primeira idéia que lhe vem à cabeça quando você ouve a palavra “esquizofrenia”? Uma pessoa louca, desvairada, perigosa, agressiva, imprevisível, que precisa passar a vida trancada num manicômio? Se você pensa assim, está completamente errado! Diferente do que aconteceu com a personagem Alexandra, interpretada pela atriz Nívea Stelman na novela Alma Gêmea da Rede Globo, com os avanços atuais nos tratamentos da doença, o portador de esquizofrenia tem uma vida normal, junto à família e à sociedade. É, portanto, fundamental deixar de lado os preconceitos, as idéias pejorativas e estigmatizantes.
Esquizofrenia é uma doença como outra qualquer. Sabemos hoje que é decorrente de alterações químicas no cérebro, que são responsáveis pelos sintomas. A esquizofrenia começa geralmente no fim da adolescência, início da idade adulta e atinge igualmente ambos os sexos. Tipicamente, evolui ao longo da vida com períodos curtos de sintomas mais intensos (“surtos”), alternados com períodos longos de controle total ou parcial dos sintomas (“remissão”).
Os principais sintomas da esquizofrenia são: idéias ou pensamentos incompatíveis com a realidade (“delírios”), percepções falsas dos órgãos dos sentidos, especialmente audição (“alucinações”, escuta vozes que não existem), perda do nexo entre os pensamentos (“desorganização do pensamento”), alterações na forma de expressar emoções, em geral uma redução da expressão emocional ou uma expressão inadequada das emoções, alterações da vontade, com apatia, desinteresse pelas atividades cotidianas. O diagnóstico é feito a partir das queixas apresentadas, não havendo exames laboratoriais ou radiológicos para confirmar a doença.
Tratamentos eficazes para a esquizofrenia começaram a surgir por volta de 1950, quando os primeiros medicamentos antipsicóticos foram desenvolvidos. Desde então, numerosos medicamentos foram descobertos. Estamos hoje na era dos antipsicóticos de segunda geração. Estes medicamentos têm duas funções: controlar os sintomas durante o surto da doença e manter os sintomas em remissão, evitando recaídas. Os antipsicóticos de segunda geração agem sobre os diversos sintomas da esquizofrenia e têm a vantagem adicional de não provocar tantos efeitos colaterais quanto os de primeira geração. Assim, o tratamento fica mais confortável para o portador, facilitando a adesão ao tratamento.
Para a grande maioria dos portadores, a medicação terá que ser utilizada por toda a vida, para garantir o controle dos sintomas e permitir que outras abordagens terapêuticas (tais como: terapia ocupacional, psicoterapia, orientação psicoeducacional) possam ser utilizadas. A família tem um papel fundamental na recuperação do portador, sendo um parceiro no tratamento. É importante saber que ela não é causa da doença e tem muito a contribuir no caminho de reintegração do portador. Informação objetiva é imprescindível! Conversar com o psiquiatra sobre a doença, conhecer seus sintomas, como ela acontece, seu tratamento, ajuda a vencer as dificuldades iniciais e estabelecer uma parceria produtiva. Aprender a contornar os problemas cotidianos e saber lidar com os comportamentos, muitas vezes inusitados, dos portadores de esquizofrenia auxiliam a recuperação.
Lembre-se: esquizofrenia é uma doença como outra qualquer, tem tratamento eficaz que permite ao portador participar ativamente da vida na comunidade.
O texto foi escrito pelo colega Mário Louzã
(psiquiatra, doutor em Medicina pela Universidade de Würzburg, médico assistente e coordenador do Projeto Esquizofrenia (Projesq) do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da FMUSP)
Publicado na revista Isto É em setembro de 2005.
Matéria publicada na revista Isto É
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