segunda-feira, 2 de maio de 2011

Mistério do voo 447 mais perto do fim

Caixa-preta do voo 447 é achada, aumentando chances de que tragédia seja esclarecida

O Escritório de Investigações e Análises da França (BEA) anunciou ter localizado e resgatado do fundo do mar a caixa-preta de dados do Airbus A330 que caiu a cerca de 600 quilômetros de Fernando de Noronha enquanto realizava o voo 447 (Rio-Paris), da Air France, em 31 de maio de 2009. A descoberta é marcante para a aviação, pois ocorreu muito tempo depois dos 30 dias em que tais dispositivos emitem sinais sonoros de localização e, sobretudo, a uma inédita profundidade de mais de quatro mil metros. As autoridades francesas esperam agora poder esclarecer a causa da tragédia, que deixou 228 mortos.

De acordo com o curto comunicado do BEA, o módulo de dados foi encontrado às 7h de ontem (horário de Brasília) e levado pelo robô Remora 6000 para o navio Île de Sein às 13h40.

Na quarta-feira passada o robô já havia localizado o chassi da caixa-preta. Ele estava próximo a outros destroços da parte traseira do avião, recuperados em 12 de abril. Nove dias antes, o órgão do governo francês anunciara ter encontrado corpos de passageiros preservados em parte da fuselagem. À época foram divulgadas algumas das 13 mil fotos dos destroços feitas pelas missões exploratórias, mostrando dois trens de pouso, duas turbinas e uma asa relativamente conservados.

- A caixa-preta parece estar em bom estado. Nossos especialistas dizem que podemos conseguir ler os dados - disse o diretor do BEA, Jean-Paul Troadec.

Gravador de voz ainda é procurado

Troadec informou que a Marinha francesa levará cerca de dez dias para transportar o dispositivo até o país, onde será submetido a análises:

- Se pudermos analisar esses dados, a investigação avança, já que o módulo de gravação de dados registra altitude, velocidade e diferentes posições do leme.

O objetivo agora é recuperar a caixa-preta de voz, que registra as conversas na cabine de comando do avião. Espera-se poder levar os dois gravadores para a França. Isso porque, segundo Troadec, sem a segunda caixa-preta "faltam dados essenciais".

Para o especialista em segurança de voo Roberto Peterca, existem "98% de chances" de as causas do acidente serem esclarecidas. Segundo ele, as caixas-pretas são fabricadas em titânio, sendo quase indestrutíveis. Além disso, como no fundo do mar os níveis de oxigênio são reduzidos, o risco de corrosão no equipamento é baixo.
- Os dados só não poderão ser lidos se tiver havido uma falha no equipamento durante o último voo. A legislação internacional permite voos com uma das caixas-pretas com defeito por até quatro dias. Mas não me parece o caso, ou isso já teria se tornado público - explicou.

O equipamento já encontrado é o mais importante para as investigações. O módulo de gravação de dados registra mais de 300 parâmetros de informações. Ele poderá esclarecer, por exemplo, se, no momento em que a aeronave começou a cair o piloto forçou o controle.

- Existe também um software para que essas informações sejam projetadas em 3-D num computador. Os investigadores poderão analisar o comportamento do avião em várias perspectivas, tanto da cabine do avião como do lado de fora - disse Peterca.

O presidente da Associação dos Familiares das Vítimas do Voo 447 da Air France, Nelson Marinho, disse que a descoberta não atende aos anseios dos que perderam parentes:

- Não falaram se os corpos serão resgatados. As famílias querem recuperá-los para que tenham um sepultamento digno. Além disso, não concordamos que as investigações sejam feitas na França, porque a Airbus e a companhia aérea são francesas. A investigação deveria ser feita pelos EUA, que atuariam de forma independente neste caso - disse Marinho.

Já o diretor-geral da Air France, Pierre-Henri Gourgeon, chamou de "grande avanço" a recuperação da caixa-preta. Ele afirmou esperar que o BEA possa dar respostas às perguntas que vêm sendo feitas pelas famílias das vítimas há quase dois anos.

Esta é a quinta missão exploratória em busca dos destroços e dos corpos dos passageiros do avião, que acabaram localizados a cerca de dez quilômetros ao norte da última posição conhecida do Airbus A330, numa área 1.100 quilômetros distante do litoral pernambucano, ainda no espaço aéreo brasileiro. O lugar exato onde está o avião é mantido em segredo, para, segundo as autoridades francesas, não atrapalhar as investigações.

Sabe-se, porém, que os destroços estão numa área plana e relativamente concentrada de cerca de 600 metros de comprimento por 200 metros de largura no fundo do mar.

O navio francês Île de Sein, base da operação de resgate, saiu de Dakar, no Senegal, em 22 de abril, a caminho da costa brasileira. De acordo com o BEA, 68 pessoas estão a bordo, incluindo técnicos da empresa americana Phoenix International, proprietária dos equipamentos. O equivalente a US$28 milhões foi gasto pela Air France e pela Airbus nas três primeiras missões de localização. A quarta tentativa saiu por US$12,5 milhões. O governo francês custeará os esforços de resgate dos destroços e dos corpos, cujos gastos não foram revelados.

Fonte: Jornal O GLOBO.

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