Combate à miséria domina discursos nos cem dias iniciais de Dilma e Lula
O combate à fome e à miséria foi o tema predominante das manifestações públicas oficiais dos cem primeiros dias dos governos de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, e de Dilma Rousseff, em 2011, segundo levantamento do G1 com base nas íntegras dos discursos e pronunciamentos disponíveis para consulta no site da Secretaria de Imprensa da Presidência da República.
Entre 1º de janeiro e 10 de abril de 2003, Lula fez 48 discursos e pronunciamentos. No mesmo período de 2011, Dilma fez 31.
As palavras "Brasil", "país" e "porque" foram algumas das mais pronunciadas pelos dois presidentes nos primeiros discursos de cada mandato. Entre as outras palavras mais usadas por Dilma estão "aqui" e "todos". Entre as mais pronunciadas por Lula estão também "fazer" e "gente" - veja imagem abaixo.
Lula fez referência à necessidade de combate à fome em 22 (45,83%) das 48 falas oficiais dos primeiros cem dias de governo. Em 20 de janeiro de 2003, ele lançou o programa Fome Zero e o Conselho de Segurança Alimentar.
Nos 31 discursos dos primeiros cem dias, Dilma falou de combate à miséria em 15 (48,3%). Na primeira semana de governo, a presidente promoveu uma reunião com dez ministros para elaborar o “PAC [Programa de Aceleração do Crescimento] da erradicação da miséria”, programa que deve ser anunciado neste ano.
Em seus cem primeiros dias, Dilma manteve a estrutura do programa Fome Zero, implementado em 2003, e que segue diretamente ligado ao Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à fome.
Por meio do programa, o governo federal busca articular políticas sociais com estados e municípios para auxiliar no combate à pobreza. A estrutura, que engloba ações de diferentes ministérios, está atualmente sob responsabilidade da ministra Tereza Campello (Desenvolvimento Social).
“A fome não será vencida da noite para o dia, nem apenas com algumas medidas isoladas do governo. A vitória contra a fome vai exigir muito esforço, muita persistência, muita coragem e dedicação de todos nós, durante os próximos quatro anos”, disse Lula, durante o lançamento do programa.
O programa de erradicação da miséria anunciado por Dilma terá um modelo de gestão semelhante ao do PAC e um comitê gestor que definirá metas. O programa deverá ter três frentes: inclusão produtiva, ampliação da rede de serviços e continuidade e aprofundamento das políticas de transferência de renda.
O tema ganhou destaque já no discurso de posse da presidente, no Congresso Nacional. Na ocasião, Dilma afirmou que "a luta mais obstinada" de seu governo seria "a erradicação da pobreza extrema e a criação de oportunidades para todos".
"Não vou descansar enquanto houver brasileiros sem alimentos à mesa", afirmou. Dilma também escolheu como lema de seu governo “País rico é país sem miséria".
Especialistas avaliam
As conjunturas político-econômicas do Brasil nos cem primeiros dias de Lula e nos cem primeiros de Dilma estão refletidas nos tipos de discursos adotados pelos dois mandatários, na análise de especialistas ouvidos pelo G1.
Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília (UnB), Lula aliou o estilo mais “despojado” à necessidade de falar à população para acalmar possíveis temores.
“O Lula estava assumindo como o primeiro presidente do PT, o primeiro sindicalista, e numa situação econômica complicada, em que ele precisava apertar os cintos. Claro que cada um tem sua personalidade, mas a situação do país é muito diferente, e a Dilma não precisa ficar reforçando discursos como o Lula fazia”, disse Fleischer.
Para o cientista político Antonio Testa, do Departamento de Ciência Política da UnB, o predomínio do tema combate à fome na fala de Dilma reforça o compromisso de dar continuidade ao governo de Lula.
“O governo Dilma é de continuidade, mas ela já conseguiu imprimir a sua marca e ser mais objetiva nos discursos. A Dilma tem uma visão mais gerencial dos projetos, e o Lula era mais político”, disse.
O fato de o número de discursos de Lula ter sido superior ao de Dilma nos cem primeiros dias de cada um (48 a 31) tem relação direta com as características pessoais de cada presidente, mas refletem também a situação econômica e política do país, na análise de Testa.
“O Lula falava em herança maldita. A Dilma nunca vai poder falar nestes termos, mesmo que os 80% de aprovação do Lula tenham resultado em R$ 50 bilhões de corte [no Orçamento da União]. Acredito que, com o passar dos meses, ela vai ter de começar a aparecer mais”, afirmou.
Para Fleischer, a formação da base governista também pode ter influenciado no conteúdo dos discursos dos dois presidentes. “Dilma incluiu o PMDB no governo desde o início. O Lula, só no começo de 2004. Ele precisava reforçar seus projetos de governo a todo o momento para conquistar a base. A Dilma não precisa desse trabalho. Sem dizer que a oposição era mais bem estruturada do que se encontra agora. A Dilma enfrenta menos problemas nesses aspectos do que o Lula tinha”, avalia o professor.
Estilos
Os discursos dos dois presidentes revelam que, ao contrário de Lula, que chamava os interlocutores de “companheiros”, Dilma prefere o termo “queridos”
Lula costumava falar por mais tempo e tratava de diversos temas em um mesmo discurso. Um exemplo foi a explanação do ex-presidente em visita ao Parque de Exposições Laucídio Coelho, durante a 65ª Expogrande, em Campo Grande, no dia 27 de março de 2003.
Em um discurso que ocupou 14 páginas, Lula falou sobre Mercosul, Programa Fome Zero, reforma agrária, segurança pública, combate à corrupção, geração de emprego e renda e transportes.
Dilma fez discursos mais curtos e fugiu menos aos temas das cerimônias. Por exemplo, no encontro com atletas paraolímpicos, no dia 2 de fevereiro, falou exclusivamente de políticas para o esporte. Quando anunciou a inclusão de novos remédios para o programa Farmácia Popular, em 3 de fevereiro, falou basicamente de saúde.
A rotina diferenciada e a intensidade do trabalho na Presidência foram relatadas por ambos nos cem primeiros dias. Lula disse que governar é "como uma maratona".
“Governar é como uma maratona. Você não pode começar a 80 por hora, porque o seu fôlego pode acabar na primeira esquina. Você tem que dar passos sólidos, concretos, para que possa terminar o governo com a certeza do dever cumprido. E quero poder dizer ao mundo: como seria bom, como seria maravilhoso se, ao invés de os países ricos produzirem e gastarem dinheiro com tantas armas, gastassem dinheiro com pão, com feijão e com arroz, para matar a fome do povo”, disse Lula, no Fórum Social de Porto Alegre, no dia 24 de janeiro de 2003.
Ao participar de um programa de TV, Dilma disse que governar é como escalar o Everest. "É como se todos os dias eu tivesse que escalar o Everest (...) Não tem um dia que você não tenha uma porção de problemas para resolver", afirmou.
Fonte: Portal G1
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por acessar o Psicoterapia Brasil!
Sua opinião é importante, será muito bem recebida e esperamos poder contar com ela sempre!