terça-feira, 12 de abril de 2011

Jovem com problemas mentais acorrentado em clínica comove Holanda

O caso de um jovem com problemas mentais que vive acorrentado em uma clínica psiquiátrica vem provocando polêmica na Holanda, desde que foi revelado em um documentário de uma das principais redes de TV do país.

Brandon van Ingen, de 18 anos, não vê a luz do sol desde 2007. Por recomendação de médicos, ele vive acorrentado à parede de seu quarto em uma clinica psiquiátrica, na cidade de Ermelo, no centro da Holanda.

De acordo com a clínica, Brandon é "violento e imprevisível", e por isso tem de usar - 24 horas por dia - um colete que o prende à parede.

“Estamos constantemente buscando alternativas médicas, mas atualmente a medida é a melhor para a sua própria segurança e para a dos funcionários da clínica”, afirmou o gerente regional da instituição, Frank van de Linden. “Todas as sugestões de como tratá-lo de outra maneira são bem-vindas".

O caso chegou ao Parlamento, que convocou sessão extraordinária para discutir o assunto, com a presença da mãe do adolescente e da secretária-executiva do Ministério da Saúde, Marlies Veldhuijzen van Zanten-Hyllner.

A deputada Sabine Uitslag revelou que existem outros 40 casos similares no país, e diz que é inaceitável que "num país civilizado como a Holanda" um método desses seja aplicado.

Van Zanten-Hyllner visitou Brandon na última sexta-feira e disse que ele deve ser transferido para um quarto sem mobília. “Ele me prometeu que não vai mais quebrar seus brinquedos e que prefere sair nas fotos sem o cinto”, disse a secretaria após a visita.

‘Animal enjaulado’

A reportagem sobre Brandon foi ao ar na última terça-feira na Rede Evangélica (EO, na sigla em holandês). As cenas mostravam que ele vive “como um animal enjaulado e sem poder sequer abrir a janela do quarto dele”, nas palavras de sua mãe, Petra van Ingen. “Isso me causa muita dor”, afirmou ela.

A emissora evangélica tomou conhecimento do caso através da denúncia de uma funcionária da clínica S Heeren Loo. A funcionária, Iris Mourats, disse que não conseguia mais conviver com a situação do rapaz.

Ela disse que, se é para viver encarcerado, Brandon deveria ser transferido para a enfermaria de um presídio “onde trabalham homens fortes (que podem contê-lo se tiver ataques de fúria), mas pelo menos ele terá liberdade de movimento”.

O cinto que prende o jovem é ligado a uma corrente com apenas 1,5 metro de comprimento, conectada a uma estrutura de metal presa à parede. Além de fazer as necessidades fisiológicas sempre com esse cinto, ele come, brinca com bola e de carrinho. Mas “dançar alguns passos de rap e de Michael Jackson é muito difícil com o cinto”, reclama Brandon.

De acordo com as imagens feitas pela família, um ritual complicado é necessário para permitir que ele assista à televisão em uma sala adjunta.

Primeiro, a porta de seu quarto é trancada pelo lado de fora, depois seu colete é fechado e a chave, lançada por baixo da porta para que ele mesmo possa abri-las.

Ele devolve a chave para o funcionário do lado de fora e só então pode ir para o quarto ao lado assistir à TV. O mesmo ritual se repete quando ele retorna ao seu quarto.

Os médicos afirmam que Brandon tem idade mental equivalente a de uma criança entre 5 e 8 anos e é hiperativo. Mas, segundo os médicos, ele consegue descrever seus sentimentos, além de elaborar e formular perguntas à família e a especialistas sobre a razão de viver preso desta maneira.

Para ele, os pequenos passos que tem de passar para alcançar sua liberdade são muito longos. Ele se sente “um menino pequeno” e diz que quer sua liberdade para se sentir maior.

“Ele só pensa em fugir e sente que os funcionários da clinica têm medo dele, mas ele não quer ser temido”, diz a mãe.

Comoção
O caso causou grande comoção na Holanda. Em muitos sites e blogs, internautas questionam as regras de procedimento em instituições psiquiátricas e pedem um tratamento mais humano em casos como o de Brandon.

O diretor da Plataforma VH, que reúne organizações de assistência a deficientes mentais com condições menos agudas, critica a avaliação feita pela Comissão Nacional de Inspeção à Saúde. Há dois anos, a comissão considerou o cárcere de Brandon aceitável, e disse que a situação atendia a normas recomendáveis por especialistas.

De acordo com Wim Drooger, diretor da Plataforma VH, “esta situação deve ser interrompida o mais rapidamente possível e a legislação deve ser modificada”.

Drooger questiona a falta de avanços nessa área nas últimas décadas, tendo em vista a comoção causada no país por outro caso semelhante em 1988, o de Iolanda Venema, que vivia presa, nua, à parede da clínica onde estava internada.

A mãe de Iolanda, Tiny Venema, que também tem participado dos debates na imprensa sobre o caso de Brandon, afirma que “por medo de represálias contra os pacientes os pais mantêm silêncio sobre o sofrimento dos filhos que vivem amarrados feito animais nas instituições psiquiátricas”.

“Com tratamento personalizado, Iolanda teve um enorme progresso”, afirma a mãe da jovem, já morta.

Para o pedagogo especialista em educação de deficientes Ad Peulen, entrevistado no documentário da EO, o caso de Iolanda Venema mostrou que existem alternativas ao tratamento de Brandon.

Segundo Peulen, com o tratamento adequado o adolescente pode viver, dentro de suas limitações, uma vida semelhante à de outra criança qualquer.

”Ele tem as capacidades desenvolvidas e pode brincar jogar futebol ao ar livre, como fazia antes quando ia visitar a família nos fins de semana. Se ficar irritado, tem de extravasar sua frustração de alguma maneira”, disse.

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