terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Programa Reação ajuda na reintegração de esquizofrênicos

 Um programa desenvolvido no Instituto de Psiquiatria (IPq) do Hospital das Clínicas (HC) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) apresentou bons resultados para a reintegração social de pacientes com esquizofrenia por meio da realização de estágios em empresas.

 
Dos pacientes que fizeram o estágio, 42% foram
contratados.
                                                                               
 Em uma amostra de 57 pacientes que já haviam concluído o estágio, foram constatados ganhos cognitivos ligados ao funcionamento intelectual — memória, raciocínio, atenção —, em comparação a 55 portadores de esquizofrenia que aguardavam vaga para ingressarem no estágio. Dos pacientes que participaram do programa, ao fim do período, 42% foram contratados pela mesma empresa onde estagiaram.

Os dados são do Programa Reação, uma iniciativa do professor Wagner Farid Gattaz, do IPq. O programa foi iniciado em 2003 e, desde então, atendeu a cerca de 100 pacientes. O programa foi oferecido até abril deste ano, quando foi interrompido devido a falta de patrocínio. Para dar continuidade à iniciativa, os pesquisadores estão buscando agora novas empresas interessadas em bancar com os custos referentes a bolsa de R$200,00 mensais oferecidas aos pacientes durante os 6 meses de estágio, além dos custos de contratação de uma assistente social para supervisionar o trabalho.

De acordo com a psicóloga Danielle Soares Bio, uma das integrantes da equipe, a esquizofrenia é uma doença grave que apresenta sintomas produtivos (alucinações como ouvir vozes, e delírios, que são distorções da realidade), sintomas deficitários (retraimento social, diminuição dos impulsos e da vontade) e dificuldades cognitivas. “Uma pessoa com esquizofrenia poderá obter o controle de seus sintomas se tomar medicação continuamente. Todavia, os medicamentos têm um efeito preponderante nos sintomas produtivos, tendo um efeito mais modesto nos sintomas deficitários da doença”,explica. ” Como a doença geralmente se inicia no final da adolescência ou início da vida adulta, muitos dos pacientes nao tiveram tempo de concluir uma formação profissional e, por isso, ou são desempregados ou nunca trabalharam”, completa a psicóloga, lembrando que os esquizofrênicos apresentam muito mais dificuldades para se engajarem na sociedade do que pacientes com outras doenças psiquiátricas, como a depressão.

Segundo Danielle, os esquizofrênicos têm dificuldades por causa da doença, mas o fato de não exercerem nenhuma atividade, de ficarem parados, em muito contribui para este prejuízo cognitivo. “Com a participação no estágio, os pacientes tiveram melhora no aspecto cognitivo”, conta.

Reintegração

A idéia do projeto surgiu a partir de um modelo implementado pelo professor Gattaz quando ele era docente no Central Institute of Mental Health Mannheim, ligado a Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde trabalhou de 1978 a 1996 . O projeto visava a reintegração social e profissional de pacientes psiquiátricos após a alta hospitalar. O modelo teve sucesso e foi adotado por outras clínicas universitárias da Alemanha, chegando a ser incluído e coberto pelos programas de seguridade social daquele país.

Em 2003, a equipe inicial do projeto, além do professor Gattaz, era formada por um psiquiatra clínico e uma assistente social. Para a escolha dos pacientes esquizofrênicos atendidos no Ipq que poderiam participar do programa, foram considerados critérios como: o último surto deveria ter ocorrido há pelo menos seis meses e eles deveriam estar desempregados.

Após essa consulta inicial com o psiquiatra clínico, os pacientes foram encaminhados para uma triagem com a assistente social. Ela realizou entrevistas com os pacientes e também com seus familiares para explicar os detalhes do funcionamento do projeto e selecionar os interessados em participar. “Muitos não se interessaram com medo de perder o auxílio doença”, conta Danielle, ressaltando que esta possibilidade não existe, pois trata-se de um programa de reabilitação que faz parte do tratamento e que a bolsa tem duração de 6 meses. A assistente social fez ainda a busca de vagas nas empresas, e ficou responsável pela mediação entre elas e os pacientes. Sua função principal era realizar visitas regulares nas empresas para verificar o andamento do estágio.

Empresas e funções

Entre as empresas que ofereceram as vagas de estágios estão: escolas, loja de sapatos, fábrica de aromas, bancos, padarias, bibliotecas e agência de publicidade. Os pacientes fizeram estágios exercendo funções como: padeiro, garçom, atendimento telefônico, atendimento ao cliente, serviços administrativos. A bolsa que os paciente recebiam, no valor de R$200,00 mensais, era paga por empresas patrocinadoras do projeto.

Segundo Danielle, a única exigência que os pesquisadores fizeram às empresas é que as negociações referentes a contratação desses pacientes como funcionários deveria ser feita fora do contexto do programa. “O foco do projeto é a reabilitação social do paciente e não arrumar um trabalho para ele”, ressalta a psicóloga. Segundo ela, 42% dos pacientes acabaram sendo contratados após o estágio. Os pacientes esquizofrênicos do IPq que participaram do projeto têm idades entre 19 a 45 anos, sendo a maioria (80%) de homens.

O projeto “Reabilitação vocacional e suas implicações no funcionamento cognitivo do paciente com esquizofrenia” foi um dos finalistas na Categoria Saúde Mental e Emocional do Prêmio Saúde 2010, oferecido pela Editora Abril. O trabalho foi recentemente publicado no Schizophrenia Research, um dos mais renomados periodicos cientificos desta area.

Empresas interessadas em patrocinar o projeto devem entrar em contato com sra. Zelinda Garcia pelo telefone (011) 3069-8010 b ou email zgarcia@hcnet.usp.br ou com a psicologa Danielle Bio (011) 2092-3070 ou email danisbio@gmail.com.

Fonte: Agência USP


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