Dos pacientes que fizeram o estágio, 42% foram contratados. |
Em uma amostra de 57 pacientes que já haviam concluído o estágio, foram constatados ganhos cognitivos ligados ao funcionamento intelectual — memória, raciocínio, atenção —, em comparação a 55 portadores de esquizofrenia que aguardavam vaga para ingressarem no estágio. Dos pacientes que participaram do programa, ao fim do período, 42% foram contratados pela mesma empresa onde estagiaram.
Os dados são do Programa Reação, uma iniciativa do professor Wagner Farid Gattaz, do IPq. O programa foi iniciado em 2003 e, desde então, atendeu a cerca de 100 pacientes. O programa foi oferecido até abril deste ano, quando foi interrompido devido a falta de patrocínio. Para dar continuidade à iniciativa, os pesquisadores estão buscando agora novas empresas interessadas em bancar com os custos referentes a bolsa de R$200,00 mensais oferecidas aos pacientes durante os 6 meses de estágio, além dos custos de contratação de uma assistente social para supervisionar o trabalho.
Segundo Danielle, os esquizofrênicos têm dificuldades por causa da doença, mas o fato de não exercerem nenhuma atividade, de ficarem parados, em muito contribui para este prejuízo cognitivo. “Com a participação no estágio, os pacientes tiveram melhora no aspecto cognitivo”, conta.
Reintegração
A idéia do projeto surgiu a partir de um modelo implementado pelo professor Gattaz quando ele era docente no Central Institute of Mental Health Mannheim, ligado a Universidade de Heidelberg (Alemanha), onde trabalhou de 1978 a 1996 . O projeto visava a reintegração social e profissional de pacientes psiquiátricos após a alta hospitalar. O modelo teve sucesso e foi adotado por outras clínicas universitárias da Alemanha, chegando a ser incluído e coberto pelos programas de seguridade social daquele país.
Em 2003, a equipe inicial do projeto, além do professor Gattaz, era formada por um psiquiatra clínico e uma assistente social. Para a escolha dos pacientes esquizofrênicos atendidos no Ipq que poderiam participar do programa, foram considerados critérios como: o último surto deveria ter ocorrido há pelo menos seis meses e eles deveriam estar desempregados.
Após essa consulta inicial com o psiquiatra clínico, os pacientes foram encaminhados para uma triagem com a assistente social. Ela realizou entrevistas com os pacientes e também com seus familiares para explicar os detalhes do funcionamento do projeto e selecionar os interessados em participar. “Muitos não se interessaram com medo de perder o auxílio doença”, conta Danielle, ressaltando que esta possibilidade não existe, pois trata-se de um programa de reabilitação que faz parte do tratamento e que a bolsa tem duração de 6 meses. A assistente social fez ainda a busca de vagas nas empresas, e ficou responsável pela mediação entre elas e os pacientes. Sua função principal era realizar visitas regulares nas empresas para verificar o andamento do estágio.
Empresas e funções
Entre as empresas que ofereceram as vagas de estágios estão: escolas, loja de sapatos, fábrica de aromas, bancos, padarias, bibliotecas e agência de publicidade. Os pacientes fizeram estágios exercendo funções como: padeiro, garçom, atendimento telefônico, atendimento ao cliente, serviços administrativos. A bolsa que os paciente recebiam, no valor de R$200,00 mensais, era paga por empresas patrocinadoras do projeto.
Segundo Danielle, a única exigência que os pesquisadores fizeram às empresas é que as negociações referentes a contratação desses pacientes como funcionários deveria ser feita fora do contexto do programa. “O foco do projeto é a reabilitação social do paciente e não arrumar um trabalho para ele”, ressalta a psicóloga. Segundo ela, 42% dos pacientes acabaram sendo contratados após o estágio. Os pacientes esquizofrênicos do IPq que participaram do projeto têm idades entre 19 a 45 anos, sendo a maioria (80%) de homens.
O projeto “Reabilitação vocacional e suas implicações no funcionamento cognitivo do paciente com esquizofrenia” foi um dos finalistas na Categoria Saúde Mental e Emocional do Prêmio Saúde 2010, oferecido pela Editora Abril. O trabalho foi recentemente publicado no Schizophrenia Research, um dos mais renomados periodicos cientificos desta area.
Empresas interessadas em patrocinar o projeto devem entrar em contato com sra. Zelinda Garcia pelo telefone (011) 3069-8010 b ou email zgarcia@hcnet.usp.br ou com a psicologa Danielle Bio (011) 2092-3070 ou email danisbio@gmail.com.
Fonte: Agência USP
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