quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

A doença da dívida

O período do Natal amplifica sintomas e dívidas de quem sofre de oneomania , transtorno psiquiátrico marcado por uma incontrolável vontade de comprar.

No armário do funcionário público Gilson*, 44, há cinco pares de sapato iguais. Só neste ano, ele calcula ter comprado oito celulares.

Para pagar seus excessos, já tomou dinheiro emprestado e estourou o limite do cheque especial. Suas dívidas, hoje, chegam a R$ 30 mil, dez vezes o valor de seu salário.

O funcionário público diz que parou a terapia por falta de caixa. "Minha mulher briga comigo por isso, mas entende que é uma doença."

Gilson sofre de oneomania, transtorno psiquiátrico que faz a pessoa comprar sem controle e se endividar.

Não é um distúrbio raro. Compradores patológicos são 3% da população.

"É um transtorno do impulso. A pessoa é levada a comprar para compensar alguma angústia. E se arrepende logo em seguida", diz o psiquiatra Dartiu Xavier da Silveira, da Unifesp, que coordena um programa de atendimento a dependentes.

"A pessoa cede por questão emocional. Compra mesmo se não precisa, ou em quantidade exagerada", diz a psicóloga Tatiana Filomensky, do Instituto de Psiquiatria do HC.

O aposentado Carlos chegou a ter sete TVs. Comprou freezer extra para acomodar as compras excessivas que fazia no supermercado.

Quando passava em frente a uma financiadora de crédito, aproveitava o fato de ser aposentado para conseguir empréstimo facilitado. E diz que gastava metade do valor antes de chegar em casa.

"Eu sentia prazer em ver o cartão de crédito passando na maquininha." Hoje, seus cinco cartões estão lacrados e guardados com a filha.

"Minha ansiedade está controlada. Só não posso "beber" de novo", diz Carlos, 62. Ele atribui a recuperação ao grupo Devedores Anônimos, que frequenta há três anos.

"Nem precisei de psiquiatra. Nas reuniões do DA, aprendi que não podia mais ter cartão", diz o aposentado.

TRATAMENTO

Compradores compulsivos devem buscar atendimento psiquiátrico e frequentar sessões de psicoterapia para tratar o problema, afirmam os médicos.

Embora grupos de ajuda mútua não sejam formados por profissionais de saúde, podem ser uma ajuda extra na recuperação, diz a psicóloga Tatiana Filomensky.

Quando há algum outro problema associado ao transtorno, como depressão ou ansiedade, o paciente pode precisar de medicação, lembra o psiquiatra Hermano Tavares, do ambulatório de transtornos do impulso do Hospital das Clínicas.

A época de final de ano favorece excessos e pode piorar o quadro de quem tem compulsão por compras, lembra Filomensky.

Mas não é esse o caso de Gilson. "É que gasto tanto o ano inteiro, que já chego nessa época quebrado."

*Os sobrenomes foram omitidos para preservar a identidade dos entrevistados

Fonte: Folha de São Paulo

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