ABP e Sociedade Pernambucana de Psiquiatria se juntam aos esforços das autoridades e da população pernambucana.
Moradora de Vitória de Santo Antão, a assistente social Tatiane Marcela Rodrigues da Silva considera a cidade de Barreiros como uma “segunda casa”. Por ter familiares e muitos amigos no local, mantém forte laço afetivo e visita o local com freqüência. Ela relata que, em junho, ficou preocupada assim que viu as notícias sobre a enchente na TV, mas não imaginou a realidade que encontraria quando chegou ao município. “Estava tudo destruído. As pessoas andavam sem rumo, sem saber o que fazer. Minha reação inicial foi sair vagando com elas”, lembra Tatiane.
Nelly Karina Araújo Silva, também assistente social, mora em Barreiros e foi uma das vítimas das águas de junho. No caso dela, no entanto, os impactos não foram os mais graves comparados aos que sofreram outros moradores.“Perdi muitas coisas que eu gostava e fiquei bem chateada. Mas, quando saí para as ruas e vi pessoas procurando comida nos lixos, aí sim fiquei realmente perturbada e entendi o alcance da destruição”, revela.
Barreiros foi uma das 67 cidades castigadas pelas chuvas em Pernambuco e ficou completamente destruída. O temporal fez o Rio Una, que corta a cidade, transbordar e destruir casas e pontes. Milhares de pessoas perderam tudo o que tinham. A cidade entrou em estado de calamidade pública.
Barreiros foi uma das 67 cidades castigadas pelas chuvas em Pernambuco.
Em Pernambuco e em Alagoas, que também sofreu com as enchentes, foram registradas 57 mortes. Atualmente são mais de 26 mil pessoas desabrigadas e 55 mil desalojadas.
Após a tragédia Tatiane e Nelly se juntaram aos esforços de reconstrução promovidos pelo governo do estado. Atuam como cuidadoras na atenção aos desabrigados em Barreiros, atendendo suas necessidades na medida do possível. Embora seja um trabalho exaustivo, “da hora que eu acordo até cair de sono”, diz Tatiane, o que mais incomoda é o impacto psicológico.
“ Estou passando por situações que jamais havia imaginado. É difícil lidar com tudo isso todos os dias”, conta Tatiane. “A verdade é que ninguém cuida dos cuidadores”, resume Nelly.
O desabafo da assistente social não é feito em tom de reclamação, pelo contrário. Ela, por viver o dia a dia da tragédia em Barreiros, entende que existem outras prioridades. Nelly apenas verbaliza um aspecto que, apesar de parecer um detalhe diante das imensas necessidades da população, é fundamental para a recuperação após a tragédia. Os cuidadores devem estar plenamente preparados, sobretudo mentalmente, para auxiliar de fato os atingidos.
Este é o foco principal do trabalho em prevenção em saúde mental realizado pela Associação Brasileira (ABP) em localidades atingidas por catástrofes. "Nosso objetivo é preparar e qualificar os cuidadores para que possam ajudar a população, oferecendo um atendimento de qualidade, acolhimento e orientação", explica o coordenador da Comissão Técnica sobre Intervenções em Desastres e Catástrofes da ABP, José Toufic Thomé.
Seguindo este conceito, uma equipe formada por profissionais da ABP e da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria iniciou uma intervenção em Pernambuco em setembro.
De início, acompanhados por profissionais da Secretaria de Assistência Social do Estado de Pernambuco, o presidente da ABP, João Alberto Carvalho, o coordenador da Comissão Técnica sobre Intervenções em Desastres e Catástrofes da ABP, José Toufic Thomé, e a primeira secretária da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, Daisy Pontual, além dos médicos voluntários Paulo Bastos e Frederico Maciel, foram a Barreiros conhecer de perto a situação.
Na ocasião conversaram com alguns dos cuidadores, quando foi possível perceber a condição traumatogênica em que estão realizando suas atividades. "A ABP, como fez em outras cidades do Brasil em situações semelhantes, já está presente para colaborar", observou João Alberto Carvalho. Ele também ressaltou que o alcance dessas intervenções vai além dos benefícios pontuais.
Após o trabalho de campo, o especialista José Toufic Thomé ofereceu um treinamento para mais de 20 profissionais na sede da Sociedade Pernambucana de Psiquiatria, com a presença do presidente da instituição, Antonio Peregrino. Os participantes da atividade serão os responsáveis por preparar os cuidadores para seu trabalho junto à população atingida.
João Alberto Carvalho ressaltou que a intervenção não oferece apenas benefícios pontuais. "Esse trabalho cria uma consciência, no poder público e na população, sobre a importância da prevenção e isso facilita a promoção da saúde mental em particular eda saúde em geral", explica.
Apesar dos estragos evidentes, já é possível perceber que a população de Barreiros está encontrando o caminho da reconstrução. Os moradores circulam apressados e ocupados em alguma tarefa relacionada à recuperação da cidade. As ruas estão repletas de obras, o comércio funcionando e a música é alta na feira ao ar livre.
Muitas pessoas ainda não têm onde morar e ainda permanecem nos dois acampamentos com barracas doadas. Mas os nomes desses locais não deixam dúvidas sobre a disposição dos barreirenses em logo terem novamente uma vida normal: Confiança e Esperança.
ABP continua intervenção em Santa Catarina
Trabalho de prevenção em saúde mental em cidades atingidas por enchentes prossegue. Blumenau recebe mais uma etapa da capacitação dos profissionais de base comunitária.
Já se passou mais de um ano após o início do cronograma de intervenções do trabalho de prevenção em saúde mental realizado pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) com a população atingida pelas enchentes no Vale do Itajaí, em Santa Catarina.
A atividade mais recente aconteceu na cidade de Blumenau e serviu para acompanhamento e capacitação dos agentes de saúde e líderes comunitários que, direta ou indiretamente, acompanham as pessoas atingidas pelo desastre.
O psiquiatra José Thomé, durante as capacitações da ABP.
O encontro aconteceu no Hotel Himmelblau e contou com a participação de 32 pessoas. A capacitação também discutiu o “Protocolo de Atenção às Populações Atingidas por Desastres de Origens Naturais”, da ONU, e os conceitos Eco-Bioéticos. A palestra “Cuidando dos Cuidadores” foi ministrada pelo psiquiatra José Toufic Thomé, coordenador da Comissão Técnica sobre Intervenções em Desastres e Catástrofes da ABP.
Fonte: Jornal Psiquiatria Hoje
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