sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Diretor do CFM critica estratégia política de controle de drogas

Uma das principais lideranças da psiquiatria do país faz críticas ao atendimento oferecido na rede pública aos usuários de crack.

Para o 3º vice-presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM), Emmanuel Fortes, a estratégia política de controle de drogas no país dificulta o tratamento dos dependentes. “Precisamos de uma política pública ampla. Antes a pandemia era cola de sapateiro, agora foi substituído pelo crack, que tem um efeito devastador”. A questão será ponto de debate do I Seminário Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso do Crack, evento realizado no dia 25 de novembro, em Brasília.

Segundo especialistas em psiquiatria, no Brasil, a escalada do crack se agrava com a política de fechamento de leitos psiquiátricos, onde a rede pública não tem capacidade de absorver toda a demanda criada. O país conta com apenas 1.800 leitos psiquiátricos em hospital geral. Por outro lado, há uma estimativa de 1,2 milhões de usuários de crack no país.

De acordo com Emmanuel Fortes, que também é coordenador da Câmara Técnica de Psiquiatria do CFM e representante da entidade no Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (CONAD), a nova política de saúde mental desvaloriza o papel do médico na assistência “A política foge aos padrões médicos de controle. O país precisa ter uma rede ambulatorial eficiente que fizesse a triagem correta, encaminhando as pessoas para diversas estruturas, inclusive hospitais psiquiátricos, quando o caso. É o médico quem diagnostica, passa remédio e trata as crises de abstinência. Como tirar uma dependência sem esta estrutura?”, questiona Fortes.

O psiquiatra ainda ressalta que o modelo atual não cria nenhum instrumento de contenção imperativo para que as pessoas que não querem se tratar tenham seu tratamento involuntário determinado. “Muitas pessoas necessitam a internação integral, involuntário e em hospital especializado”.

Estrutura dos CAPS - A Reforma Psiquiátrica do Ministério da Saúde eliminou gradualmente os hospitais psiquiátricos e implementou uma rede substitutiva – com a criação de Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), de residências terapêuticas, e mesmo contratando leitos psiquiátricos em hospitais gerais estes não são capazes de substituir o leito psiquiátrico especializado.

De acordo com a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), os CAPS são incapazes, por sua natureza, de atender a todas as necessidades dos doentes. “Essas unidades não foram projetadas, em estrutura e recursos humanos, para cuidar de todas as manifestações dos transtornos mentais. Por isso, um leito no CAPS não substitui outro em hospital geral ou mesmo em hospital especializado, desde que este funcione dentro dos padrões de qualidade”, afirmou a entidade em nota oficial.

Discussão em Brasília sobre o crack – Os médicos querem criar diretrizes eficazes para o tratamento da dependência de crack. O psiquiatra Emmanuel Fortes estará participando, no próximo dia 25, em Brasília, das mesas de debates do I Seminário Nacional sobre Aspectos Médicos e Sociais Relacionados ao Uso do Crack.

Fonte: Meio Norte

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