quarta-feira, 17 de março de 2010

Países se reúnem para dividir conta do Haiti

Representantes do Brasil e dos países doadores do Haiti se reúnem nesta quarta-feira (17), na República Dominicana, para preparar a cúpula da reconstrução do país, marcada para 31 de março. Um dia após a ONU divulgar que serão necessários R$ 20,3 bilhões (US$ 11,5 bilhões) só nos três primeiros anos, o encontro deve revelar as disputas nos bastidores, sobretudo entre Estados Unidos e França, para saber quem terá mais poder e quem vai arcar com a parte mais salgada da conta do terremoto.

Uma fonte ligada ao governo admitiu que conflitos devem aparecer na reunião de dois dias que vai cuidar dos detalhes técnicos da cúpula da reconstrução, no fim do mês, na sede da ONU, em Nova York. O ponto mais crítico será a divisão da conta da reconstrução.

O principal representante do Brasil no encontro desta semana será o embaixador Ruy Nunes Pinto Nogueira. Segundo apurou o R7, o governo do Haiti e a ONU abrem o primeiro dia da reunião apresentando as maiores necessidades do país. Saneamento básico, saúde, infraestrutura, educação e abrigo aos sem-teto devem ser os temas mais urgentes.

Após a apresentação, os países doadores devem identificar o que é "mais prioritário entre as prioridades". O objetivo é sair do encontro com um único documento, que servirá de base para a cúpula da reconstrução, que deve ter a presença dos chanceleres dos países doadores.

Analista diz que Brasil pode reafirmar liderança regional

O americano Paul Wander, pesquisador do Inter-American Dialogue, concorda que o encontro preparatório da cúpula pode evidenciar alguns desencontros entre os países doadores:

- A principal rusga pode ocorrer entre EUA e França. Logo após o terremoto, o presidente Nicolas Sarkozy acusou os americanos de estarem dominando tudo, por causa do controle [dos EUA] do aeroporto de Porto Príncipe.

Segundo Wander, os protagonistas da reunião devem ser os EUA, o Canadá, o Brasil e a União Europeia:

- Mas o governo do Haiti será o principal ator do encontro.

Wander afirma que os EUA estão muito ocupados com as guerras do Iraque e do Afeganistão e isso pode abrir espaço para a atuação de outros países, como o Brasil:

- Mesmo antes do terremoto o Brasil desempenhava com êxito o papel de líder das forças de paz da ONU [Minustah] no Haiti. O Brasil tem desempenhado um papel importante. Há muito de decisão de comando, de protagonismo global.

Brasil pode aumentar recursos para o Haiti

Logo após o terremoto, o governo brasileiro anunciou a doação de R$ 26,5 milhões (US$ 15 milhões) ao país caribenho. O presidente Lula visitou Porto Príncipe e reafirmou a vontade do Brasil de cooperar.

Em janeiro, o governo liberou R$ 375 milhões para gastos com o Haiti. Destes, R$ 135 milhões são para o Ministério da Saúde, que inicialmente anunciou a construção de dez unidades de pronto atendimento médico no Haiti. Outros R$ 205 milhões foram destinados ao Ministério da Defesa, para a manutenção das tropas brasileiras no país, e R$ 35 milhões para o Ministério das Relações Exteriores (que incluem a doação citada).

Em entrevista ao R7 em fevereiro, o General Jorge Armando Félix, ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República e chefe do gabinete de crise do Haiti, disse que vai pedir ainda mais recursos aos ministérios do Planejamento e da Fazenda. Esse dinheiro será necessário para ações de longo prazo para o país, como o desarmamento de gangues, que vem sendo feito desde 2004, a recuperação dos mais de 5.000 prisioneiros que fugiram das cadeias do país e a implantação de um sistema de saúde, que não existia antes do terremoto.

Haiti deve ganhar mais R$ 619 milhões

Segundo a agência Reuters, os países doadores devem anunciar mais R$ 619 milhões (US$ 350 milhões) durante a próxima cúpula.

O pesquisador americano não se arrisca a dizer, no entanto, como vai se dar a administração dos recursos. Embora o governo do Haiti deva estar à frente da reconstrução, Wander acredita que os países doadores vão participar da administração, "talvez como parte de um conselho diretor", diz. Afinal, a fragilidade das instituições haitianas é velha conhecida:

- Esta é uma boa oportunidade para fomentar a fé de que o governo haitiano pode governar para seu povo, fazendo dos reapresentantes democraticamente eleitos os principais atores em qualquer processo de cooperação.



Fonte: R7

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