segunda-feira, 8 de março de 2010

Marcas na Alma

As cicatrizes da violência domés-tica familiar, muitas vezes, são invisíveis, deixando marcas profundas na alma de suas vítimas. Trata-se da violência psicológica, quando a agressão é expressa por palavras, ameaças, desqualificação, humilhação, levando a mulher a perder a autoestima. O processo pode desencadear doenças físicas, como dores de cabeça, hipertensão, enxaquecas, inflamação no aparelho reprodutivo, pele, trato digestivo, entre outras, destaca Clara Goldman Ribenboin, conselheira secretária do Conselho Federal de Psicologia.

Considera a violência contra a mulher como um problema nacional, social e de saúde, que ocorre em diferentes classes sociais, independentemente da idade. O assunto só chama a atenção pública quando a violência termina em morte, como se as violências esporádicas e os maus-tratos fossem menores. "Elas devem ser denunciadas".

Uma rápida passagem por um serviço de atendimento às mulheres vítimas de violência é o suficiente para constatar o que a psicóloga afirma. Grande parte das mulheres se queixa de doenças como hipertensão e depressão, sendo obrigadas a recorrer a medicamentos para dormir. Na falta de um diagnóstico reclamam que estão doentes "dos nervos".

A violência psicológica é mais uma face de uma outra mais ampla: a doméstica familiar que durante muitos anos ficou escondida embaixo do tapete. Por não deixar marcas ou fraturas expostas, as mulheres sofrem caladas e sequer dão conta de que possam estar precisando de ajuda. Muitas só acabam procurando um serviço médico quando a doença da alma se manifesta no corpo.

"A violência psicológica não está necessariamente associada à física", diz Clara Goldman, explicando que deixa sequelas tanto quanto a física. Pode estar inserida no modelo de relação que foi estabelecida pelo casal, sendo difícil identificar. Geralmente são agressões verbais, minimização do papel da mulher ou na forma de desabafo, como por exemplo, "você é um peso na minha vida".

Por não deixar marca, "é mais difícil identificar". No entanto, à luz dos Direitos Humanos é passível de penalidades e pode ser denunciada pelo número 0800.2800804.

O medo é um dos principais fatores a contribuir para que as mulheres se calem diante da violência doméstica, quer seja física, ou psicológica. "Ele impede que o ciclo de violência seja quebrado", destaca.

Outro componente da violência doméstica e familiar contra a mulher é a cultura. Prova disso são as novas gerações que continuam reproduzindo comportamentos violentos. A coordenadora do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar do Estado, Mônica Barroso, aposta numa mudança mais que deve contar com a participação das mulheres.

Existem 85 homens presos pela Lei Maria da Penha no Instituto Penal Professor Olavo Oliveira (IPPOO). "Antes, nunca existiu homem preso por ter cometido violência contra a mulher". A mudança é lenta, mas vem acontecendo e a Lei prevê cinco tipos de violência contra a mulher: física, sexual, patrimonial, moral e psicológica. Hoje, o homem não pode chamar uma mulher de "vagabunda", alerta.

Com relação ao machismo, admite ser um problema generalizado, não restrito ao homem brasileiro ou nordestino. "Na França e na Alemanha mulheres também são mortas". Sua observação faz cair por terra a ideia do machismo fruto de uma sociedade colonial, marcada pelo patriarcalismo, como a nordestina. "As mulheres também precisam fazer a mea culpa".


Fonte: Diário do Nordeste

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