A doença mental de Nathaniel Ayers, no filme O Solista, ilustra a difícil realidade dos moradores de rua de Los Angeles, EUA; também correspondente à das grandes cidades brasileiras. O filme se baseia na história de um jornalista que, ao procurar uma matéria interessante, encontra um músico morador de rua. Com o passar do tempo, o jornalista realiza inúmeras tentativas para recuperar o potencial artístico e a sanidade mental desse personagem, que um dia fora um artista de extremo talento.
Muitos moradores de rua são pessoas desgarradas da família devido à gravidade da doença mental que os aflige e/ou pelo uso simultâneo de álcool e drogas, sobretudo as mais baratas, como o crack. O número desses moradores de rua vem aumentando desde 1990, após a mudança da legislação em relação às hospitalizações psiquiátricas, que, a partir de então, exige a vontade manifesta e a anuência dos doentes para serem hospitalizados. Estima-se que o número de moradores de rua de Porto Alegre esteja ao redor de 1,4 mil; em São Paulo, é cerca de 14 mil pessoas.
Presumir que uma pessoa delirante, com o pensamento fragmentado, desconectada do senso de realidade comum, que se imagina poderosa como um Deus ou um ser extraterrestre, manifeste a sua vontade ou assine um termo de responsabilidade aceitando a necessidade de tratamento especializado é algo incompreensível, desprovido de conhecimento, em relação à lógica dos processos mentais. No entanto, é exatamente isso que vem acontecendo no dia a dia da assistência aos doentes mentais graves desamparados, no que se refere a suas doenças de base, que deterioram o estado psicológico, aumentam o contágio de doenças infecciosas, como hepatite C, tuberculose e aids, levando a completa decadência física e mental.
Além das ruas, também as prisões se tornaram um lar alternativo para uma parcela dessa população de doentes que, por fim, acaba cometendo pequenos delitos ou quadros de agressividade e agitação psicomotora. Recentemente, o jornalista Nilson Souza publicou uma crônica em Zero Hora que conta justamente a história de um doente mental que permaneceu durante vários meses numa prisão em Caxias do Sul, cujo apelido, certamente não por acaso, era Quase Nada. Que mundo é este em que doentes mentais ficam nas ruas e nas prisões?
No Rio Grande do Sul, a Lei Estadual nº 9.716, aprovada em 1992, proíbe a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos, bem como o aumento de vagas nos já existentes. No Artigo 15 da lei, ficou estabelecido que a reforma psiquiátrica seria reavaliada quanto aos seus rumos e ritmo de implantação no prazo de cinco anos. Já se passaram 17 anos e, de lá para cá, a população de doentes mentais nas ruas cresce ininterruptamente. Está mais do que na hora de se rever esta legislação.
Fernando Lejderman, presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
Fonte: Zero Hora
Muitos moradores de rua são pessoas desgarradas da família devido à gravidade da doença mental que os aflige e/ou pelo uso simultâneo de álcool e drogas, sobretudo as mais baratas, como o crack. O número desses moradores de rua vem aumentando desde 1990, após a mudança da legislação em relação às hospitalizações psiquiátricas, que, a partir de então, exige a vontade manifesta e a anuência dos doentes para serem hospitalizados. Estima-se que o número de moradores de rua de Porto Alegre esteja ao redor de 1,4 mil; em São Paulo, é cerca de 14 mil pessoas.
Presumir que uma pessoa delirante, com o pensamento fragmentado, desconectada do senso de realidade comum, que se imagina poderosa como um Deus ou um ser extraterrestre, manifeste a sua vontade ou assine um termo de responsabilidade aceitando a necessidade de tratamento especializado é algo incompreensível, desprovido de conhecimento, em relação à lógica dos processos mentais. No entanto, é exatamente isso que vem acontecendo no dia a dia da assistência aos doentes mentais graves desamparados, no que se refere a suas doenças de base, que deterioram o estado psicológico, aumentam o contágio de doenças infecciosas, como hepatite C, tuberculose e aids, levando a completa decadência física e mental.
Além das ruas, também as prisões se tornaram um lar alternativo para uma parcela dessa população de doentes que, por fim, acaba cometendo pequenos delitos ou quadros de agressividade e agitação psicomotora. Recentemente, o jornalista Nilson Souza publicou uma crônica em Zero Hora que conta justamente a história de um doente mental que permaneceu durante vários meses numa prisão em Caxias do Sul, cujo apelido, certamente não por acaso, era Quase Nada. Que mundo é este em que doentes mentais ficam nas ruas e nas prisões?
No Rio Grande do Sul, a Lei Estadual nº 9.716, aprovada em 1992, proíbe a construção de novos hospitais psiquiátricos públicos, bem como o aumento de vagas nos já existentes. No Artigo 15 da lei, ficou estabelecido que a reforma psiquiátrica seria reavaliada quanto aos seus rumos e ritmo de implantação no prazo de cinco anos. Já se passaram 17 anos e, de lá para cá, a população de doentes mentais nas ruas cresce ininterruptamente. Está mais do que na hora de se rever esta legislação.
Fernando Lejderman, presidente da Associação de Psiquiatria do Rio Grande do Sul.
Fonte: Zero Hora
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