O fracasso da conferência do clima em Copenhague deixou clara a relativa inutilidade de tentar criar salvaguardas contra a mudança climática sob os auspícios da ONU, em negociações que exigem o consenso entre quase 200 países. O mais provável daqui para a frente é que os grandes emissores de gases-estufa assumam as rédeas das discussões, numa espécie de G20 climático.
A avaliação foi consenso entre os quatro especialistas reunidos no debate "Balanço de Copenhague", promovido pela Folha na noite da última terça-feira. Todos concordaram em que as negociações na Dinamarca devem ser classificadas como fracasso, mas com algumas nuances importantes.
Para começo de conversa, não era mesmo lícito esperar que os EUA (país que é o maior emissor histórico de gases-estufa) tivessem liberdade para barganhar sem a aprovação prévia de uma lei nacional de redução de emissões.
Além disso, afirma o cientista político Sergio Abranches, alguns "entraves importantes" acabaram sendo removidos, apesar do fiasco. "Acabou, por exemplo, a estratégia do biombo, na qual alguns grandes países se escondiam atrás dos pequenos", declarou Abranches.
"Acabou a falácia do G77 [grupo dos países em desenvolvimento]. Ficou claro que países como China, Índia e Brasil pouco tinham a ver com esse grupo. E a China e os EUA começaram a resolver a questão crucial da transparência [sobre o monitoramento internacional das ações de corte de emissões]."
Para Eduardo Viola, professor de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília), o fracasso em Copenhague representa "mais um golpe --não é nem de longe o primeiro-- na dinâmica multilateral de negociação da ONU", a qual, segundo ele, "está esgotada há muitos anos".
Segundo Viola, o modelo que deve se tornar dominante para que as negociações climáticas tenham chance de sucesso precisa incluir o que ele chama de superpotências climáticas (Estados Unidos, China e União Europeia), costurando um acordo que seja aceitável para elas e para as potências climáticas (Rússia, Índia, China, Brasil, Japão, México, Indonésia e Coreia do Sul).
"As outras nações não contam --embora muitas sofram ao máximo as consequências da mudança climática perigosa", afirmou o analista.
Tanto Viola quanto Carlos Cavalcanti, diretor do Departamento de Infraestrutura/Energia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) chamaram a atenção para o papel-chave da China e para a habilidade com que os chineses conseguiram conduzir as negociações em benefício próprio.
"Para a China, quanto mais tempo demorar para surgir um acordo, mais tempo ela tem para despejar no mercado global produtos oriundos de uma matriz energética carbonizada", analisa Cavalcanti. "A China é, sem dúvida, um império de carbono, que está seguindo uma linha nacionalista e soberanista [levantando a bandeira da soberania nacional]", diz Viola.
Transição inevitável
Apesar desse cenário, o economista José Eli da Veiga, da USP, disse que não é possível concluir que a transição do planeta rumo a uma economia de baixo carbono saiu dos trilhos, mesmo que temporariamente, por causa de Copenhague.
"Temos três vetores empurrando essa transição, e a ideia de que estamos fazendo isso como uma forma de altruísmo em relação às futuras gerações é apenas um deles, e provavelmente o menos importante", disse. Mais relevantes são a busca por segurança energética (adotar energias renováveis diminui a dependência do petróleo) e a ideia de que "as próximas etapas do desenvolvimento do capitalismo" vão depender das novas tecnologias associadas às energias renováveis.
"Tendo havido o fracasso, o erro seria achar que essa transição empacou ou vai empacar. E, se o Brasil não investir muito mais em ciência, tecnologia e inovação, vai acabar comprando no balcão dos outros países os meios para participar dessa transição", afirmou.
A avaliação foi consenso entre os quatro especialistas reunidos no debate "Balanço de Copenhague", promovido pela Folha na noite da última terça-feira. Todos concordaram em que as negociações na Dinamarca devem ser classificadas como fracasso, mas com algumas nuances importantes.
Para começo de conversa, não era mesmo lícito esperar que os EUA (país que é o maior emissor histórico de gases-estufa) tivessem liberdade para barganhar sem a aprovação prévia de uma lei nacional de redução de emissões.
Além disso, afirma o cientista político Sergio Abranches, alguns "entraves importantes" acabaram sendo removidos, apesar do fiasco. "Acabou, por exemplo, a estratégia do biombo, na qual alguns grandes países se escondiam atrás dos pequenos", declarou Abranches.
"Acabou a falácia do G77 [grupo dos países em desenvolvimento]. Ficou claro que países como China, Índia e Brasil pouco tinham a ver com esse grupo. E a China e os EUA começaram a resolver a questão crucial da transparência [sobre o monitoramento internacional das ações de corte de emissões]."
Para Eduardo Viola, professor de relações internacionais da UnB (Universidade de Brasília), o fracasso em Copenhague representa "mais um golpe --não é nem de longe o primeiro-- na dinâmica multilateral de negociação da ONU", a qual, segundo ele, "está esgotada há muitos anos".
Segundo Viola, o modelo que deve se tornar dominante para que as negociações climáticas tenham chance de sucesso precisa incluir o que ele chama de superpotências climáticas (Estados Unidos, China e União Europeia), costurando um acordo que seja aceitável para elas e para as potências climáticas (Rússia, Índia, China, Brasil, Japão, México, Indonésia e Coreia do Sul).
"As outras nações não contam --embora muitas sofram ao máximo as consequências da mudança climática perigosa", afirmou o analista.
Tanto Viola quanto Carlos Cavalcanti, diretor do Departamento de Infraestrutura/Energia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) chamaram a atenção para o papel-chave da China e para a habilidade com que os chineses conseguiram conduzir as negociações em benefício próprio.
"Para a China, quanto mais tempo demorar para surgir um acordo, mais tempo ela tem para despejar no mercado global produtos oriundos de uma matriz energética carbonizada", analisa Cavalcanti. "A China é, sem dúvida, um império de carbono, que está seguindo uma linha nacionalista e soberanista [levantando a bandeira da soberania nacional]", diz Viola.
Transição inevitável
Apesar desse cenário, o economista José Eli da Veiga, da USP, disse que não é possível concluir que a transição do planeta rumo a uma economia de baixo carbono saiu dos trilhos, mesmo que temporariamente, por causa de Copenhague.
"Temos três vetores empurrando essa transição, e a ideia de que estamos fazendo isso como uma forma de altruísmo em relação às futuras gerações é apenas um deles, e provavelmente o menos importante", disse. Mais relevantes são a busca por segurança energética (adotar energias renováveis diminui a dependência do petróleo) e a ideia de que "as próximas etapas do desenvolvimento do capitalismo" vão depender das novas tecnologias associadas às energias renováveis.
"Tendo havido o fracasso, o erro seria achar que essa transição empacou ou vai empacar. E, se o Brasil não investir muito mais em ciência, tecnologia e inovação, vai acabar comprando no balcão dos outros países os meios para participar dessa transição", afirmou.
Fonte: Folha Online
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Obrigado por acessar o Psicoterapia Brasil!
Sua opinião é importante, será muito bem recebida e esperamos poder contar com ela sempre!