Um padrão alimentar baseado em carnes processadas, gorduras trans e saturadas, cereais refinados, açúcar e aditivos alimentares (corantes, conservantes etc.) dobra o risco de depressão na meia idade. A afirmação é de um estudo, publicado no "British Journal of Psychiatry", que acompanhou quase 3.500 homens por cinco anos, no Reino Unido.
Pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College, em Londres, e do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica de Montpellier (França) utilizaram a base de dados do estudo de coorte Whitehall 2, que envolve vários países e inclui no total 10.308 pessoas.
Com os dados do estudo de coorte, os pesquisadores puderam controlar uma ampla gama de variáveis, como condições sociodemográficas, hábitos de vida e parâmetros médicos.
O padrão alimentar foi definido em dois grupos: alimentação integral (alto consumo de vegetais, frutas e peixe) e industrializada (alto consumo de doces, frituras, carne processada, gorduras trans e saturadas e cereais refinados). O mais alto grau diz respeito à ingestão dos alimentos de cada grupo seis ou mais vezes por dia; o grau mais baixo significa que os alimentos não são consumidos nunca ou menos de uma vez por mês.
Após cinco anos, os participantes responderam a um questionário padronizado para medir sintomas de depressão. Os pesquisadores fizeram, então, os ajustes para eliminar fatores como atividade física, doenças crônicas, tabagismo e depressão preexistente. Mesmo excluindo esses potenciais influenciadores, o grupo com o padrão alimentar baseado em alimentos industrializados apresentou o dobro de chances de desenvolver depressão.
"O efeito deletério dos alimentos industrializados na depressão é uma descoberta nova. Precisamos de mais estudos para explicar essa associação, mas a hipótese é que ela se deve ao maior risco de inflamação e doenças do coração, que estão envolvidas na depressão", disse à Folha Tasmine Akbaraly, coordenadora do estudo.
Ação inflamatória
Para Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), estudos mostram que substâncias produzidas por certos alimentos levam à produção de proteínas com ação pró-inflamatória e que, entre essas, muitas são gatilhos da depressão.
"A alta ingestão de produtos industrializados cria uma sinalização inflamatória. As substâncias secretadas pelo intestino comunicam para os sistemas hipotalâmico [relacionado à secreção de neuro-hormônios] e límbico [relacionado às emoções] essa agressão", diz a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly, membro da International Hormone Society.
Akbaraly diz que essas hipóteses precisam ser testadas. "Queremos verificar o quanto uma dieta saudável pode diminuir o risco de depressão. E ainda não temos evidência de que mudar o padrão alimentar pode reverter o distúrbio."
Para Ricardo Moreno, coordenador do programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP, mesmo sendo preciso mais evidências, o estudo traz um importante recado. "Ele mostra como as medidas de bom senso, entre elas uma dieta saudável, funcionam de fato como fatores de proteção ao desenvolvimento da depressão", diz.
Fonte: Folha de S. Paulo
Pesquisadores do Departamento de Epidemiologia e Saúde Pública da University College, em Londres, e do Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica de Montpellier (França) utilizaram a base de dados do estudo de coorte Whitehall 2, que envolve vários países e inclui no total 10.308 pessoas.
Com os dados do estudo de coorte, os pesquisadores puderam controlar uma ampla gama de variáveis, como condições sociodemográficas, hábitos de vida e parâmetros médicos.
O padrão alimentar foi definido em dois grupos: alimentação integral (alto consumo de vegetais, frutas e peixe) e industrializada (alto consumo de doces, frituras, carne processada, gorduras trans e saturadas e cereais refinados). O mais alto grau diz respeito à ingestão dos alimentos de cada grupo seis ou mais vezes por dia; o grau mais baixo significa que os alimentos não são consumidos nunca ou menos de uma vez por mês.
Após cinco anos, os participantes responderam a um questionário padronizado para medir sintomas de depressão. Os pesquisadores fizeram, então, os ajustes para eliminar fatores como atividade física, doenças crônicas, tabagismo e depressão preexistente. Mesmo excluindo esses potenciais influenciadores, o grupo com o padrão alimentar baseado em alimentos industrializados apresentou o dobro de chances de desenvolver depressão.
"O efeito deletério dos alimentos industrializados na depressão é uma descoberta nova. Precisamos de mais estudos para explicar essa associação, mas a hipótese é que ela se deve ao maior risco de inflamação e doenças do coração, que estão envolvidas na depressão", disse à Folha Tasmine Akbaraly, coordenadora do estudo.
Ação inflamatória
Para Geraldo Possendoro, professor de medicina comportamental da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), estudos mostram que substâncias produzidas por certos alimentos levam à produção de proteínas com ação pró-inflamatória e que, entre essas, muitas são gatilhos da depressão.
"A alta ingestão de produtos industrializados cria uma sinalização inflamatória. As substâncias secretadas pelo intestino comunicam para os sistemas hipotalâmico [relacionado à secreção de neuro-hormônios] e límbico [relacionado às emoções] essa agressão", diz a endocrinologista e nutróloga Vânia Assaly, membro da International Hormone Society.
Akbaraly diz que essas hipóteses precisam ser testadas. "Queremos verificar o quanto uma dieta saudável pode diminuir o risco de depressão. E ainda não temos evidência de que mudar o padrão alimentar pode reverter o distúrbio."
Para Ricardo Moreno, coordenador do programa de transtornos afetivos do Instituto de Psiquiatria da USP, mesmo sendo preciso mais evidências, o estudo traz um importante recado. "Ele mostra como as medidas de bom senso, entre elas uma dieta saudável, funcionam de fato como fatores de proteção ao desenvolvimento da depressão", diz.
Fonte: Folha de S. Paulo
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