A gravidez foi fácil, o parto foi tranquilo. Era o primeiro bebê do casal, eles estavam empolga-díssimos. Porém, em dois meses, a alegria de serem pais foi destruída pela depressão pós-parto.
Uma história triste, mas familiar. No entanto, essa história era diferente: o paciente que veio até mim para receber tratamento não era a mãe, mas seu marido.
Algumas semanas após a chegada do bebê, ele ficou atipicamente ansioso, triste e reservado. Ele apresentava dificuldades para dormir, embora sua mulher fosse a única a estar acordada à noite, amamentando o novo filho. O que a assustou de tal forma que a fez trazer o marido para o meu consultório foi que ele tinha pensamentos suicidas.
Até 80% das mulheres sentem uma pequena tristeza após dar à luz, e cerca de 10% caem em uma depressão pós-parto mais grave. No entanto, os homens também podem ter depressão pós-parto, e seus efeitos podem ser perturbadores - não só para o pai, mas para a mãe e o filho.
Não sabemos a predominância exata da depressão pós-parto em homens. Estudos têm usado métodos e critérios de diagnóstico diferentes. Paul G. Ramchandani, psiquiatra da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autor de um estudo com 26 mil pais e mães relatou no "The Lancet", em 2005, que 4% dos pais tinham sintomas depressivos clinicamente significativos em até oito semanas após o nascimento do filho. Entretanto, uma coisa é clara: não é algo que a maioria das pessoas, incluindo médicos, ouve muito a respeito.
Primeiro, meu paciente insistia que tudo estava bem. Ele e sua mulher tinham tentado conceber um filho por mais de um ano. Ele estava em êxtase com a ideia de ser pai, e não reconhecia sentimentos depressivos e suicidas.
Suspeitando de sua avaliação floreada, forcei um pouco.
Fiquei sabendo que ele tinha aceitado um novo emprego, de muita pressão, na área de finanças seis meses antes do nascimento do filho. Embora ele relutasse em admitir, o pai claramente se preocupava muito com o futuro financeiro da família.
Além disso, ele estava ansioso em relação ao seu casamento e sua nova vida. "Saíamos muitos com os amigos para jantar e ir ao cinema", disse ele, saudosamente, como eu bem me lembro. "Agora acho que tudo isso vai acabar".
Ele tinha passado os nove meses da gravidez em estado de empolgação com a ideia de ser pai, sem realmente perceber que aquele evento mudaria sua vida.
Ao contrário das mulheres, os homens geralmente não são criados para expressar suas emoções ou pedir ajuda. Isso pode ser especialmente problemático para pais de primeira viagem, pois a ideia de ser pai traz vários tipos de insegurança: Que tipo de pai eu serei? Como posso sustentar minha família? Será o fim da minha liberdade?
Provavelmente, há mais elementos por trás da depressão pós-parto em homens do que apenas estresse social ou psicológico; assim como a maternidade, a paternidade tem sua própria biologia e pode, de fato, modificar o cérebro.
Um estudo realizado em 2006 com macacos, publicado no jornal Nature Reviews Neuroscience, relatou que novos pais experimentavam um rápido aumento nos receptores para o hormônio vasopressina no córtex pré-frontal do cérebro. Junto com outros hormônios, a vasopressina está envolvida no comportamento parental em animais, e sabe-se que a mesma área cerebral nos humanos é ativada quando os pais visualizam fotos de seus filhos.
Há ainda algumas evidências de que níveis de testosterona tendem a cair nos homens durante a gravidez da parceira, talvez para tornar os futuros pais menos agressivos e com maior tendência a se apegar aos recém-nascidos. Dada a conhecida associação entre a depressão e o baixo nível de testosterona em homens de meia-idade, é possível que isso também coloque alguns homens em risco de desenvolver depressão pós-parto.
De longe, o sinal mais forte de depressão pós-parto paternal é ter uma parceira em depressão. Em um estudo, os pais cujas parceiras também estavam deprimidas tinham quase duas vezes e meia mais riscos de desenvolver depressão. Essa foi uma descoberta importante, pois clínicos tendem a deduzir que os homens podem facilmente entrar em ação e ajudar a substituir uma mãe em depressão. Na verdade, eles também podem estar estressados e vulneráveis à depressão.
Temos de pensar também na criança. Pesquisas mostram claramente que a depressão pós-parto pode prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo dos bebês. Um pai poderia aliviar alguns efeitos adversos da depressão da mãe sobre a criança - mas isso é difícil se ele também está deprimido.
Ramchandani, que também acompanhou crianças por três anos e meio após o nascimento, relatou que elas foram afetadas de forma diferente, dependendo se era o pai ou a mãe que estava em depressão. A depressão pós-parto maternal estava associada a efeitos adversos emocionais e comportamentais em crianças, independente do sexo; a depressão dos pais estava ligada apenas a problemas comportamentais nos meninos (o estudo não relatou possíveis efeitos quando ambos os pais estavam em depressão).
Voltando ao meu paciente. Ele se recuperou em dois meses com a ajuda de psicoterapia e antidepressivo. Mais tarde, ele resumiu a situação em poucas palavras: "E eu que achava que só as mulheres tinham esse tipo de coisa".
Muitos médicos também pensam assim.
Fonte: Folha Online
Uma história triste, mas familiar. No entanto, essa história era diferente: o paciente que veio até mim para receber tratamento não era a mãe, mas seu marido.
Algumas semanas após a chegada do bebê, ele ficou atipicamente ansioso, triste e reservado. Ele apresentava dificuldades para dormir, embora sua mulher fosse a única a estar acordada à noite, amamentando o novo filho. O que a assustou de tal forma que a fez trazer o marido para o meu consultório foi que ele tinha pensamentos suicidas.
Até 80% das mulheres sentem uma pequena tristeza após dar à luz, e cerca de 10% caem em uma depressão pós-parto mais grave. No entanto, os homens também podem ter depressão pós-parto, e seus efeitos podem ser perturbadores - não só para o pai, mas para a mãe e o filho.
Não sabemos a predominância exata da depressão pós-parto em homens. Estudos têm usado métodos e critérios de diagnóstico diferentes. Paul G. Ramchandani, psiquiatra da Universidade de Oxford, na Inglaterra, e autor de um estudo com 26 mil pais e mães relatou no "The Lancet", em 2005, que 4% dos pais tinham sintomas depressivos clinicamente significativos em até oito semanas após o nascimento do filho. Entretanto, uma coisa é clara: não é algo que a maioria das pessoas, incluindo médicos, ouve muito a respeito.
Primeiro, meu paciente insistia que tudo estava bem. Ele e sua mulher tinham tentado conceber um filho por mais de um ano. Ele estava em êxtase com a ideia de ser pai, e não reconhecia sentimentos depressivos e suicidas.
Suspeitando de sua avaliação floreada, forcei um pouco.
Fiquei sabendo que ele tinha aceitado um novo emprego, de muita pressão, na área de finanças seis meses antes do nascimento do filho. Embora ele relutasse em admitir, o pai claramente se preocupava muito com o futuro financeiro da família.
Além disso, ele estava ansioso em relação ao seu casamento e sua nova vida. "Saíamos muitos com os amigos para jantar e ir ao cinema", disse ele, saudosamente, como eu bem me lembro. "Agora acho que tudo isso vai acabar".
Ele tinha passado os nove meses da gravidez em estado de empolgação com a ideia de ser pai, sem realmente perceber que aquele evento mudaria sua vida.
Ao contrário das mulheres, os homens geralmente não são criados para expressar suas emoções ou pedir ajuda. Isso pode ser especialmente problemático para pais de primeira viagem, pois a ideia de ser pai traz vários tipos de insegurança: Que tipo de pai eu serei? Como posso sustentar minha família? Será o fim da minha liberdade?
Provavelmente, há mais elementos por trás da depressão pós-parto em homens do que apenas estresse social ou psicológico; assim como a maternidade, a paternidade tem sua própria biologia e pode, de fato, modificar o cérebro.
Um estudo realizado em 2006 com macacos, publicado no jornal Nature Reviews Neuroscience, relatou que novos pais experimentavam um rápido aumento nos receptores para o hormônio vasopressina no córtex pré-frontal do cérebro. Junto com outros hormônios, a vasopressina está envolvida no comportamento parental em animais, e sabe-se que a mesma área cerebral nos humanos é ativada quando os pais visualizam fotos de seus filhos.
Há ainda algumas evidências de que níveis de testosterona tendem a cair nos homens durante a gravidez da parceira, talvez para tornar os futuros pais menos agressivos e com maior tendência a se apegar aos recém-nascidos. Dada a conhecida associação entre a depressão e o baixo nível de testosterona em homens de meia-idade, é possível que isso também coloque alguns homens em risco de desenvolver depressão pós-parto.
De longe, o sinal mais forte de depressão pós-parto paternal é ter uma parceira em depressão. Em um estudo, os pais cujas parceiras também estavam deprimidas tinham quase duas vezes e meia mais riscos de desenvolver depressão. Essa foi uma descoberta importante, pois clínicos tendem a deduzir que os homens podem facilmente entrar em ação e ajudar a substituir uma mãe em depressão. Na verdade, eles também podem estar estressados e vulneráveis à depressão.
Temos de pensar também na criança. Pesquisas mostram claramente que a depressão pós-parto pode prejudicar o desenvolvimento emocional e cognitivo dos bebês. Um pai poderia aliviar alguns efeitos adversos da depressão da mãe sobre a criança - mas isso é difícil se ele também está deprimido.
Ramchandani, que também acompanhou crianças por três anos e meio após o nascimento, relatou que elas foram afetadas de forma diferente, dependendo se era o pai ou a mãe que estava em depressão. A depressão pós-parto maternal estava associada a efeitos adversos emocionais e comportamentais em crianças, independente do sexo; a depressão dos pais estava ligada apenas a problemas comportamentais nos meninos (o estudo não relatou possíveis efeitos quando ambos os pais estavam em depressão).
Voltando ao meu paciente. Ele se recuperou em dois meses com a ajuda de psicoterapia e antidepressivo. Mais tarde, ele resumiu a situação em poucas palavras: "E eu que achava que só as mulheres tinham esse tipo de coisa".
Muitos médicos também pensam assim.
Fonte: Folha Online
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