terça-feira, 9 de junho de 2009

Violência cotidiana é pauta dos debates

A Associação de Psiquiatria do Rio Gran-de do Sul e o Projeto de Prevenção da Violência (PPV) do Governo do Estado do RS promoveram no dia 6 de junho, na Amrigs, o evento "Violência cotidiana: o que podemos fazer?", aberto à comunidade. Entre outros, foram abordados os seguintes temas: Afinal, porque somos violentos?, Cérebro, drogas e violência, Justiça restaurativa e a violência e Trabalho de prevenção da violência da Central Única das Favelas (CUFA).

Na abertura dos trabalhos, o presidente da APRS, Fernando Lejderman, destacou a importância de discutir a violência cotidiana e a necessidade de unir esforços para prevenir ou detectar precocemente o problema. O presidente da mesa diretora do Comitê Estadual do PPV, o psiquiatra Miguel Abib Adad, enfatizou o trabalho desenvolvido e os planos a curto e médio prazo do PPV. Houve grande interação entre plateia e palestrantes.

A palestra "Afinal, porque somos violentos?" foi apresentada pelo psiquiatra Paulo Seixas. "Segundo muitos pensadores que se debruçaram sobre este problema, a questão não é assim tão simples", comentou Seixas, acrescentando que “filósofos e humanistas de todas as épocas sempre se ocuparam dessa questão. A lista de pensadores é muito extensa: por exemplo, Thomas Hobbes - filósofo inglês que viveu no século XVII - achava que o homem é naturalmente egoísta e a violência é sua aliada e parceira, sendo assim, para garantir seus próprios interesses, não hesita em eliminar seu semelhante”. Freud, segundo Seixas, "acreditava existir no homem uma força maligna operando como se fosse um desejo de praticar atos destrutivos, e assim teorizou a pulsão de morte capaz de explicar as tendências perversas sádicas e masoquistas".

Para falar sobre "Cérebro, drogas e violência", o psiquiatra Carlos Alberto Iglesias Salgado situou o tema entre os jovens, ressaltando que a maturação neurológica se desenvolve até os 21 anos. A exposição ao álcool e a outras drogas pode, nesse período, estar associada à fixação de padrões de conduta violentos. Salgado salientou também que cabe à família e à sociedade como um todo produzir esforços máximos no sentido de evitar o contato do jovem com essas substâncias. "Justifica-se assim o amplo apoio da APRS a quaisquer medidas públicas que visem ao controle social da disponibilidade de tais substâncias", disse Carlos Salgado.

A juíza Márcia Papaleo, do Tribunal de Justiça, contribuiu para o debate relatando sua experiência a partir do viés da justiça restaurativa e de ações de seu grupo de trabalho dirigido aos jovens. Referiu sua experiência na justiça restaurativa, especialmente nos laboratórios com jovens que frequentam regularmente sua unidade de trabalho, apresentando material produzido por seu grupo, que tem sido posto à disposição de escolas do Estado.

Maria Dinorá Rodrigues, secretária da mesa diretora do Comitê Estadual de Prevenção da Violência, falou sobre "Trabalho de prevenção da violência da Central Única das Favelas (CUFA)". “A Central Única das Favelas é uma organização nacional que surgiu por intermédio de reuniões de jovens de várias favelas do Brasil que buscavam espaço na cidade para expressar suas atitudes, questionamentos ou simplesmente sua vontade de viver.

Esses jovens, em sua maioria, pertenciam ao movimento hip hop ou por ele eram orientados. A partir das reuniões, descobriram que juntos poderiam sonhar mais e se organizaram em torno de um ideal: transformar as favelas, seus talentos e potenciais diante de uma sociedade onde os preconceitos de cor, de classe social e de origem ainda não foram superados. A CUFA procura ampliar e atingir outras formas de expressão, conscientizando e elevando a autoestima das camadas não privilegiadas por meio de uma linguagem própria.” A CUFA, ao longo destes anos, tornou-se um referencial para as comunidades e possui hoje bases de trabalho nos 27 estados brasileiros.

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