Você já deve ter ouvido falar da teoria dos seis graus de separação. É aquela que nos coloca a uma distância de até meia dúzia de pessoas do resto do mundo. Pela hipótese, qualquer um é capaz de apertar as mãos, por exemplo, dos vencedores do Prêmio Nobel de Medicina 2008 — os franceses Françoise Barre-Sinoussi e Luc Montagnier, que descobriram o vírus causador da aids, o HIV — acionando apenas alguns poucos contatos. Entre os matemáticos, ainda restam cálculos que comprovem tal fenômeno, que eles chamam de pequenos mundos. Já no campo da cura e da prevenção de doenças, os pesquisadores somam cada vez mais evidências de que essa mesma rede de amizades funciona como um poderoso canal de contágio de bom humor, bem-estar e até felicidade.
O que pesquisas recentes mostram é que, assim como vírus e bactérias, a saúde também é transmissível — só que por meio dos laços afetivos criados entre nós. Na prática, quem se aproxima de gente que faz ginástica, por exemplo, tende a espantar o sedentarismo sem sofrimento. Aqueles que presenciam a decisão de um amigo de parar de fumar têm mais chances de largar o cigarro. E os que preferem conviver com pessoas alegres acabam tornando-se mais satisfeitos com a vida. De acordo com um estudo assinado pela Harvard Medical School, nos Estados Unidos, se um grande amigo seu ficar contente, a probabilidade de você começar a rir à toa só por conviver com ele é de 60%.
Como humores e hábitos se tornam contagiosos? Os mecanismos que permitem a propagação de algo que não cabe em um tubo de ensaio ainda pedem mais esclarecimentos. Os cientistas, porém, têm algumas pistas. “Os animais sociais, como é o caso do homem, nascem com a capacidade de imitar seus pares mesmo sem ter consciência disso. É o efeito camaleão” explica a neurocientista Eliane Volchan, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Fazendo isso, o indivíduo consegue incluir-se no grupo e obter a necessária proteção para sua sobrevivência.”
Seria como uma mímica involuntária ou instintiva, a mesma que nos rege toda vez que presenciamos um bocejo — quando nos damos conta, já estamos com o bocão aberto. Mas o trabalho do pessoal de Harvard vai ainda mais longe: sugere que a transmissão pode se dar entre desconhecidos, e a distância. De acordo com os pesquisadores, existem até três graus de contágio social. Ou seja, o amigo do vizinho de porta do seu melhor amigo tem influência sobre sua felicidade.
Outro aspecto que reforça a importância dos nossos relacionamentos é o papel das amizades na conquista da saúde. Um artigo do jornal americano The New York Times publicado em abril mostra que o amparo emocional do amigo é capaz de prolongar a vida, renovar a memória, combater o câncer, proteger o coração e até evitar a obesidade. A neurocientista Eliane Volchan complementa: “Temos evidências de que a amizade acelera o tempo de cicatrização de uma lesão e também ajuda a reduzir o estresse”.
Os especialistas apenas alertam: o círculo social é uma mão de duas vias. Do mesmo modo que conduz o vírus da felicidade, pode trazer influências não tão desejáveis, como a depressão, o mau humor, os vícios e por aí vai. Em outras palavras, o amigo do amigo do seu amigo pode ser um agente transmissor das doenças ditas não contagiosas. Isso significa que é importante estar atento a essas influências negativas.
A primeira coisa a fazer é entender que, embora estejamos falando de reações neurológicas espontâneas, podemos, sim, ter controle sobre elas e nos proteger. E não se trata aqui de se afastar de amigos que estejam acima do peso ou, então, em frangalhos emocionais. Afinal, a amizade está acima do estado de saúde das pessoas... “Mas também não precisamos ficar passivos diante de alguém que vive de cara fechada ou reclamando de tudo”, orienta o psicobiólogo José Roberto Leite, do Departamento de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo. “É preciso uma atitude assertiva, isto é, deixar claro para o outro que o mau humor dele está fazendo mal também para você. Sem agressividade, mas com firmeza.”
De acordo com Leite, a ideia não é exigir do outro que mude sua atitude. Principalmente quando o assunto for cigarro ou maus hábitos alimentares. “É preciso apenas ser coerente com você mesmo e sua saúde. Muita gente, querendo agradar, é condescendente com comportamentos alheios e acaba se prejudicando”, constata Leite, que cita o caso do amigo depressivo. “Por mais que você goste dele, não dá para ficar refém de suas amarguras e ser submetido a elas a toda hora. É importante dar apoio, mas em algum momento tem de haver um basta, para que ele deixe de se escorar em você e vá se ajudar.”
A psiquiatra Alexandrina Meleiro, que trabalha no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, confirma que a depressão é contagiante. E chama a atenção para outra questão relevante: existem pessoas mais ou menos vulneráveis a influências. “A maturidade emocional é decisiva nessa hora. Pessoas que têm muita dificuldade para lidar com dores e frustrações são mais suscetíveis”, avalia. “Um bom exemplo é o de uma crise: diante dela, há os que se queixam, os que esperam que os outros a resolvam e os que tomam atitudes para enfrentá-la. Os mais maduros são os que se ajustam às dificuldades.”
Outra maneira de se livrar de algumas roubadas, dizem os especialistas, é escolher os amigos com cautela. Eles recomendam ficar o máximo de tempo possível com aqueles que se mostram sempre dispostos e sorridentes. Sugerem ainda que se busquem companhias com interesses comuns e saudáveis, como correr ou cozinhar pratos balanceados. Ou seja, algo que pode ser socializado. Diante de pessoas com estado emocional ou comportamentos dos quais a gente quer distância, a orientação é esquivar-se da natural inclinação que temos para imitar expressões faciais e posturas. “Enfim, temos de procurar nos blindar sempre, sabendo o que queremos e o que não queremos para a nossa vida. Afinal, a influência social nos acomete o tempo todo”, aconselha Alexandrina Meleiro.
Fonte: Saúde é Vital
O que pesquisas recentes mostram é que, assim como vírus e bactérias, a saúde também é transmissível — só que por meio dos laços afetivos criados entre nós. Na prática, quem se aproxima de gente que faz ginástica, por exemplo, tende a espantar o sedentarismo sem sofrimento. Aqueles que presenciam a decisão de um amigo de parar de fumar têm mais chances de largar o cigarro. E os que preferem conviver com pessoas alegres acabam tornando-se mais satisfeitos com a vida. De acordo com um estudo assinado pela Harvard Medical School, nos Estados Unidos, se um grande amigo seu ficar contente, a probabilidade de você começar a rir à toa só por conviver com ele é de 60%.
Como humores e hábitos se tornam contagiosos? Os mecanismos que permitem a propagação de algo que não cabe em um tubo de ensaio ainda pedem mais esclarecimentos. Os cientistas, porém, têm algumas pistas. “Os animais sociais, como é o caso do homem, nascem com a capacidade de imitar seus pares mesmo sem ter consciência disso. É o efeito camaleão” explica a neurocientista Eliane Volchan, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro. “Fazendo isso, o indivíduo consegue incluir-se no grupo e obter a necessária proteção para sua sobrevivência.”
Seria como uma mímica involuntária ou instintiva, a mesma que nos rege toda vez que presenciamos um bocejo — quando nos damos conta, já estamos com o bocão aberto. Mas o trabalho do pessoal de Harvard vai ainda mais longe: sugere que a transmissão pode se dar entre desconhecidos, e a distância. De acordo com os pesquisadores, existem até três graus de contágio social. Ou seja, o amigo do vizinho de porta do seu melhor amigo tem influência sobre sua felicidade.
Outro aspecto que reforça a importância dos nossos relacionamentos é o papel das amizades na conquista da saúde. Um artigo do jornal americano The New York Times publicado em abril mostra que o amparo emocional do amigo é capaz de prolongar a vida, renovar a memória, combater o câncer, proteger o coração e até evitar a obesidade. A neurocientista Eliane Volchan complementa: “Temos evidências de que a amizade acelera o tempo de cicatrização de uma lesão e também ajuda a reduzir o estresse”.
Os especialistas apenas alertam: o círculo social é uma mão de duas vias. Do mesmo modo que conduz o vírus da felicidade, pode trazer influências não tão desejáveis, como a depressão, o mau humor, os vícios e por aí vai. Em outras palavras, o amigo do amigo do seu amigo pode ser um agente transmissor das doenças ditas não contagiosas. Isso significa que é importante estar atento a essas influências negativas.
A primeira coisa a fazer é entender que, embora estejamos falando de reações neurológicas espontâneas, podemos, sim, ter controle sobre elas e nos proteger. E não se trata aqui de se afastar de amigos que estejam acima do peso ou, então, em frangalhos emocionais. Afinal, a amizade está acima do estado de saúde das pessoas... “Mas também não precisamos ficar passivos diante de alguém que vive de cara fechada ou reclamando de tudo”, orienta o psicobiólogo José Roberto Leite, do Departamento de Medicina Comportamental da Universidade Federal de São Paulo. “É preciso uma atitude assertiva, isto é, deixar claro para o outro que o mau humor dele está fazendo mal também para você. Sem agressividade, mas com firmeza.”
De acordo com Leite, a ideia não é exigir do outro que mude sua atitude. Principalmente quando o assunto for cigarro ou maus hábitos alimentares. “É preciso apenas ser coerente com você mesmo e sua saúde. Muita gente, querendo agradar, é condescendente com comportamentos alheios e acaba se prejudicando”, constata Leite, que cita o caso do amigo depressivo. “Por mais que você goste dele, não dá para ficar refém de suas amarguras e ser submetido a elas a toda hora. É importante dar apoio, mas em algum momento tem de haver um basta, para que ele deixe de se escorar em você e vá se ajudar.”
A psiquiatra Alexandrina Meleiro, que trabalha no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo, confirma que a depressão é contagiante. E chama a atenção para outra questão relevante: existem pessoas mais ou menos vulneráveis a influências. “A maturidade emocional é decisiva nessa hora. Pessoas que têm muita dificuldade para lidar com dores e frustrações são mais suscetíveis”, avalia. “Um bom exemplo é o de uma crise: diante dela, há os que se queixam, os que esperam que os outros a resolvam e os que tomam atitudes para enfrentá-la. Os mais maduros são os que se ajustam às dificuldades.”
Outra maneira de se livrar de algumas roubadas, dizem os especialistas, é escolher os amigos com cautela. Eles recomendam ficar o máximo de tempo possível com aqueles que se mostram sempre dispostos e sorridentes. Sugerem ainda que se busquem companhias com interesses comuns e saudáveis, como correr ou cozinhar pratos balanceados. Ou seja, algo que pode ser socializado. Diante de pessoas com estado emocional ou comportamentos dos quais a gente quer distância, a orientação é esquivar-se da natural inclinação que temos para imitar expressões faciais e posturas. “Enfim, temos de procurar nos blindar sempre, sabendo o que queremos e o que não queremos para a nossa vida. Afinal, a influência social nos acomete o tempo todo”, aconselha Alexandrina Meleiro.
Fonte: Saúde é Vital
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