
No pequeno, mas aconchegante, auditório do Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro, na Praça Mauá, o clima é de descontração. Reunidos em volta da música, Luiz Mario Reis França (flauta doce e transversa), Hamilton de Jesus Assunção (vocal), Marcelo Duarte, André Luiz Rodrigues e Geiza Carvalho (percussão), Ricardo Conde (baixo), Sidnei Dantas (violão e bandolim), Maria da Graça (coral) e Francisco Sayão (violão) repassam o repertório de uma banda que deixou o anonimato para brilhar nos palcos do Brasil e, em breve, até mesmo na trilha sonora da telenovela global Caminho das Índias.
Formado em 2001 por profissionais e pacientes do centro psiquiátrico vinculado à Secretaria Estadual de Saúde, o Harmonia Enlouquece já tem em seu currículo dois CDs gravados ("Harmonia Enlouquece", de 2001, e "Pra Distrair a Lembrança do Irritado", lançado no ano passado), dezenas de shows e a companhia ilustre de nomes como Gilberto Gil e Moska. Com a visibilidade de suas apresentações no projeto "Loucos Por Música", que reúne estrelas da música popular brasileira em prol de instituições psiquiátricas, o Harmonia Enlouquece conquistou a notoriedade sonhada por todos os artistas iniciantes.
O sucesso, porém, não alterou a rotina dos integrantes da banda, que se apresenta com até 13 pessoas no palco. Enquanto prepara e seleciona as novas músicas para o terceiro disco do grupo, o musicoterapeuta Sidnei Dantas, coordenador do Harmonia Enlouquece, lembra que o melhor resultado do projeto é a ressocialização dos pacientes do centro psiquiátrico, que recuperam a autoestima e encontram novos canais de expressão.
- O Harmonia Enlouquece nasceu do projeto "Convivendo com a Música", que nós desenvolvemos no centro psiquiátrico desde 1999. São duas as vertentes: a vertente da palavra e a vertente da música. Desde o início a ideia era fazer as nossas próprias canções, independentemente da qualidade. A arte não cura nada e não substitui os medicamentos, mas nós sabíamos que poderíamos utilizá-la para melhorar a capacidade de expressão e de comunicação dos pacientes do nosso centro psiquiátrico - afirma Sidnei.
Além do contato com a música, os homens e mulheres que chegam ao Centro Psiquiátrico do Rio de Janeiro têm acesso a outra oficinas, como a de artes plásticas, com o professor Francisco Fernandes. A combinação de atividades lúdicas com o tratamento médico tradicional, em ambulatório e enfermaria, também promove o melhor entrosamento entre os profissionais de saúde e seus pacientes. Na linha de frente do Harmonia Enlouquece, o médico psiquiatra e diretor do instituto, Francisco Sayão, é um dos cantores e violonistas do grupo.
- A superação das deficiências é uma lição para quem assiste a uma apresentação do Harmonia Enlouquece. A emoção compartilhada gera afeto. Esse é um recado novo para a psiquiatria, que passou muito tempo asilando as pessoas. O grupo provoca uma reflexão sobre a noção de incapacidade de um ser humano. Esse não é um ambiente construído só por técnicos para os pacientes, mas coletivamente - assegura Francisco.
Entre as mais de 40 pessoas que já passaram pelo Harmonia Enlouquece - "Na Saúde Mental, as pessoas melhoram e vão embora. É uma tristeza alegre", diz o diretor do instituto - uma, em especial, se destacou por seu talento e dedicação. Cantor e autor da maior parte das letras do grupo, Hamilton Assunção, de 44 anos, iniciou o primeiro tratamento psiquiátrico aos 19 e só descobriu-se compositor ao ingressar no projeto "Convivendo com a Música" em 2001.[14]
Influenciado por grandes nomes da música brasileira, como os baianos Gil, Caetano, Bethânia e Gal, Hamilton demonstra, até mesmo nos ensaios, a energia e o carisma que contagiam as platéias do Rio de Janeiro e do Brasil. O reconhecimento do público e da crítica só não tira a humildade de Hamilton, que escreveu e gravou "Sufoco da Vida", que fará parte da trilha sonora de Caminho das Índias, novela do horário nobre da TV Globo.
- Eu gostava de ficar na pintura, mas aceitei um convite para trabalhar com música e aos poucos também fui me descobrindo como compositor. Primeiro eu comecei a fazer música com o grupo e depois passei a fazer sozinho. Não podia mais ver papel que tinha vontade de fazer música. Eu sentava na condução e escrevia, qualquer coisa virava música na minha cabeça. Hoje já tenho cerca de 60 músicas - diz Hamilton, que, além de ser o principal letrista e cantor do Harmonia Enlouquece, também faz bonito nas oficinas de artes plásticas.
www.segs.com.br - Fonte ou Autoria é : CLARIMUNDO FLORES
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