A África é aqui mesmo
Não há como escapar da dura realidade que ainda faz do Brasil um país de contrastes e de profunda desigualdade social, apesar dos avanços alcançados na última década — em relação a um longo período de queda ou estagnação de indicadores de desenvolvimento humano. Um dos mais recentes termômetros da debilitada saúde do Brasil real e do destino de milhares de brasileiros que precisam da rede pública para receber tratamento é o relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a política nacional de câncer.
De acordo com o documento, a situação no atendimento a pacientes de câncer é mais grave na Região Norte, com destaque para os estados do Pará — onde apenas 40% das pessoas que dependem do Sistema Único de Saúde (SUS) conseguem fazer quimioterapia — e de Rondônia, que reduz a 6% a capacidade de atender pessoas com necessidade de cirurgia. A estimativa do TCU aponta que 58 mil tratamentos de radioterapia e 81 mil cirurgias deixaram de ser feitos no ano passado.
Mas os horizontes do cenário crítico do país não impõem seus limites sombrios apenas às regiões Norte e Nordeste — tradicionalmente as mais fragilizadas — em termos de acesso à saúde. No
Paraná, uma das ilhas de primeiro mundo do Brasil, um em cada cinco pacientes não conseguiram fazer radioterapia e um em cada quatro não foram operados.
O mais grave: pacientes que precisam de quimioterapia aguardam, em média, 58 dias; e a espera é ainda mais angustiante para aqueles que necessitam de radioterapia — cerca de 100 dias. Isso significa que o país está deixando as pessoas morrerem de câncer ou, no mínimo, postergando um suplício que poderia se resumir a um momento difícil da vida. Afinal, caso o diagnóstico seja feito no início da doença, a medicina consegue oferecer mais de 90% de chances de cura para vários tipos de tumores.
Não é essa, no entanto, a situação que vivem pessoas das classes mais pobres do Norte e do Nordeste. Essas se acham dentro de um túnel sem perspectivas de melhora; outras, dos mesmos estratos sociais, porém, conseguem ver a luz no fim desse túnel. São pacientes de câncer em estados como São Paulo, que abriga hospitais públicos de comprovada excelência em oncologia, assim como ocorre no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul. Mas estamos falando da Europa brasileira. O resto é África. O resto é silêncio, como diria Hamlet, à beira da morte.
Autor: Carlos Tavares
Publicado no jornal Correio Braziiense.
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