As armadilhas que o cérebro prega ao bolso
Nos últimos anos, não apenas os fundamentos macroeconômicos ou das empresas passaram a explicar a decisão dos investidores de comprar ou vender um determinado ativo. Surgiram as finanças comportamentais para explicar o lado psicológico dos investidores, algo que vai muito além de tabelas, gráficos ou números exatos.
Agora surge a neuroeconomia, que estuda as decisões dos investidores como consequências de processos químicos e cerebrais. Essa linha de pensamento tem chegado a conclusões interessantes. Uma delas é que o cérebro prepara armadilhas para o investidor.
Segundo o estrategista de investimentos pessoais da Santander Asset Management e especialista em finanças comportamentais, Aquiles Mosca, estudos revelam que o ser humano age em busca de recompensas. "O prazer de quem tem fome é comer, de quem tem frio é se agasalhar e de quem aplica num ativo é ter retorno", explica Mosca.
Um estudo internacional recente traz novas conclusões sobre o assunto. A simples expectativa de poder ter uma recompensa provoca uma sensação de prazer maior e mais intensa do que quando ocorre a recompensa em si.
Comparando com um velho ditado do mercado, é o mesmo que dizer que a bolsa "sobe no boato e cai no fato". Só que, nesse caso, o prazer sobe na expectativa de uma recompensa e cai quando ela [a recompensa] ocorre.
Na visão de Mosca, essa forma de reagir pode ser uma tremenda casca de banana pelo caminho do investidor. "O fato de que o cérebro potencializa o prazer na expectativa de que haverá uma recompensa pode levar a comportamentos pouco racionais na hora do investimento", acredita Mosca.
A maior consequência pode ser o investidor errar na dose, sendo conservador ou arrojado demais, dependendo do momento do mercado.
No cenário de alta da bolsa, por exemplo, no afã de ver o seu dinheiro se multiplicar, o investidor compra uma quantidade de ações muito maior do que o seu perfil de risco permite. Já em fases de queda do mercado, como a atual, ele tende a pecar pelo excesso de conservadorismo, mantendo uma carteira de ações bem menor do que deveria. "O resultado disso é que o investidor é pego no contrapé na hora em que o mercado inverte a tendência", lembra Mosca.
Para não perder para o seu próprio cérebro, ele recomenda que o investidor tenha um planejamento financeiro e o siga independentemente de como se encontra o mercado.
Autora: Daniele Camba.
(jornalista, repórter de Investimentos).
Publicado no jornal Valor Econômico.
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