Liberdade ameaçada.
No dia dedicado pela ONU à liberdade de imprensa no mundo, a blogueira cubana Yoani Sánchez lembrava no Twitter que em seu país não existe imprensa (a não ser estatal) e muito menos liberdade de expressão. Referência internacional na luta que trava para livrar Cuba da tirania, Yoani dizia que todos os seus problemas com o Estado totalitário se iniciaram quando começou a usar a internet, mais precisamente as redes sociais, para expressar suas ideias como cidadã cubana e chamar a atenção do mundo para a implacável ditadura dos Castros.
No mundo inteiro, as redes sociais, à frente o Twitter, são usadas como ferramentas para que as pessoas se informem sobre o que acontece, se mobilizem e expressem livremente suas opiniões. Um espaço de que não dispunham na mídia tradicional. Os movimentos que se insurgiram contra tiranos no Oriente Médio se valeram desse instrumento virtual para disseminar informações que a população não encontraria na imprensa controlada pelas ditaduras da região.
No Brasil, o cidadão comum que se informa nas redes sociais deve estar desorientado com o oceano de lama em que se transformou o caso Cachoeira. Isso porque exércitos de tuiteiros, blogs e sites de aluguel tomaram de assalto o ciberespaço. São, principalmente, grupos de direita arregimentados por quadrilhas de que atuam para plantar notícias, desqualificar o trabalho da mídia convencional (grandes jornais e emissoras de TV) e pregar controle social da mídia ou, como dizem quase babando, o que nada mais é do que a imposição de uma mordaça nos jornalistas não subservientes ao governo de plantão. Hoje, o de Dilma. Amanhã, como é comum a essa gente, qualquer outro governo.
Hoje, um dos pontos cruciais dos mercenários é acusar jornalistas que recebem informações de fontes sujas, para denunciar maracutaias de agentes públicos e privados, de atuar em conluio com os criminosos. Na versão dos mercenários virtuais, essas informações só seriam válidas se o informante tivesse a credibilidade de uma Madre Tereza de Calcutá. O problema é que esse tipo de denúncia, que levou Dilma a demitir sete ministros, nunca é feita por gente honesta. Simplesmente porque gente honesta não se envolve com gângsteres, a menos que seja usado sem saber. Jornalistas, sim. Porque jornalista de verdade vive atrás de informações de interesse público, que só acabam publicadas após confirmadas por outras fontes confiáveis. Essas informações, na maioria das vezes, jamais viriam à tona se dependessem de uma denúncia da Madre Tereza. Até as pedras sabem disso.
Autor: Plácido Fernandes Vieira
Publicado no jornal Correio Braziliense.
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