terça-feira, 13 de dezembro de 2011

ONU já fala em cerca de 5 mil mortes

Se fosse em outros tempos e com um governo diferente, a segunda-feira teria sido considerada um dia de tributo à democracia. Ao todo, 42.889 candidatos disputaram 17.588 assentos em 1.337 unidades administrativas (espécie de prefeituras). Mas as eleições para as 656 cidades e 681 municipalidades não convenceram os sírios, ocorreram à sombra do temor de um massacre em Homs — a 162km de Damasco — e foram ofuscadas pela repressão. Durante uma exposição no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU), a alta comissária de Direitos Humanos, Navi Pillay, admitiu que se aproxima de 5 mil o total de mortos desde o início do levante, em março. "Esta situação é intolerável", declarou a sul-africana. As forças do regime de Bashar Al-Assad já prenderam mais de 14 mil pessoas.

"O número de mártires é absolutamente maior, porque é difícil documentar cada assassinato por aqui", afirmou ao Correio Sami K., 26 anos, morador do bairro de Mala"b, em Homs. Ele recusou-se a votar ontem. "Essa eleição foi uma mentira do regime. De que tipo de democracia o governo de Al-Assad entende? Eles matam pessoas e depois fazem uma eleição! Que comédia!", ironizou.

Até o fechamento desta edição, as autoridades eleitorais não haviam divulgado o índice de comparecimento às urnas. No entanto, uma decisão do juiz Nazir Kheirallah, chefe do Subcomitê Eleitoral no Governo de Damasco, sinalizou alta abstenção: as urnas permaneceriam abertas até meia-noite.

O prazo para que os cidadãos de Homs ponham fim aos protestos pró-democracia expirou ontem. À medida que a madrugada chegava, trazia com ela o medo da repetição de um massacre — em fevereiro de 1982, tropas a mando do então presidente Hafez Al-Assad (pai de Bashar) mataram pelo menos 20 mil pessoas em Hama, a 47km de Homs. "Dentro da cidade nada tem mudado: desde setembro há postos militares em cada rua, e os blindados ocupam as principais avenidas. No entanto, nas imediações de Homs, vimos um número imenso de tanques e de soldados", relata Sami. Segundo ele, a segunda-feira de eleições foi marcada por tiros quase ininterruptos e por explosões. Apenas ontem, 21 civis foram mortos na Síria, 11 deles em Homs.

Desespero

Às 23h (19h em Brasília), a síria Baraa Agha, 21 anos, contou ao Correio que ouvia vários disparos nos bairros de Al-Waaer e Bab Sibaa, a cerca de 3km de sua casa, em Homs. "Oito tanques acabaram de entrar em Al-Zafarana, uma cidade situada 20km a leste daqui, e o Exército acaba de explodir um gasoduto em Talpisa, a 17km", disse. Ela sabe que está vulnerável a uma invasão em massa das forças de segurança. "O que eu posso fazer?", questiona. De acordo com Baraa, a situação humanitária em Homs beira o desastre. "Falta combustível e o preço do gás de cozinha disparou", acrescenta. O Conselho de Segurança da ONU deve se reunir nos próximos dias, a portas fechadas, para debater a crise. Em outubro passado, a Rússia e a China — parceiros comerciais da Síria — usaram o poder de veto contra uma resolução que condenaria Al-Assad.

Informação publicada no jornal Correio Braziliense.

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