sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Opinião - vazamento na Bacia de Campos.

Show de desinformação no vazamento.

De 20 de abril ao fim da primeira quinzena de junho do ano passado, um poço sem controle, no mar do Golfo do México, sob a plataforma da BP "Deepwater Horizon", jorrou de 3 a 4 milhões de barris, no maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos.

Na costa fluminense, uma perfuração feita por uma plataforma a serviço da americana Chevron, em consórcio com a Petrobras, abriu fissuras no fundo do mar pelas quais escapou petróleo. Formou-se uma grande mancha no Atlântico, empurrada por correntes em direção à África. Sorte das populações de Cabo Frio, Búzios e adjacências. E do próprio país. O acidente fez lembrar o Golfo. Mas com profundas diferenças. Para começar, a dimensão. O vazamento ocorrido na costa fluminense é ínfimo em comparação com o do Golfo do México, causa da virtual paralisação da indústria de pesca na costa da Louisiana e arredores, além de prejuízos extensos ao turismo. Além de danos ambientais generalizados. Outra diferença importante é na transparência e acesso a informações sobre o acidente. Nos Estados Unidos, o sinal emitido por câmeras colocadas diante da cabeça do poço acidentado foi aberto a todas as emissoras de TV. Bastava, em qualquer lugar do mundo, sintonizar uma emissora americana para se acompanhar a evolução do vazamento. Nos primeiros dias, canais como a CNN mantiveram a imagem numa pequena janela aberta na tela, indefinidamente.

No Brasil, não há sequer estimativa confiável de quanto fluiu pelas fissuras: 2,5 mil barris, nas contas da empresa; 15 mil, pelo faro da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Nestas mais de duas semanas em que o acidente ocupou manchetes, ouviram-se brados nacionalistas, opiniões veementes e definitivas de gente cujo único contato com a indústria de petróleo é ser consumidora de gasolina.

Passados o vozerio e manipulações políticas, é preciso uma séria revisão de todo o processo de certificação e acompanhamento dos trabalhos de exploração de petróleo no mar. (Um plano de contingências para estas circunstâncias está com um atraso de dez anos.) É bem-vinda a anunciada auditoria que o Tribunal de Contas da União (TCU) pretende fazer do caso, junto a Chevron, Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP), cuja competência é questionada desde que foi capturada pelo aparelhamento político do Estado patrocinado pelo lulopetismo.

Pois há agora um caso prático para se medir o desempenho da ANP em situação de emergência. Um exemplo emblemático do que acontece quando se aparelha área estratégica é o furacão Katrina em New Orleans. Ocupada por amigos do presidente Bush, a Defesa Civil federal dos EUA (Fema) não preparou a cidade para a tormenta.

Há uma oportunidade de se passar a limpo normas e procedimentos, antes de o país avançar na exploração do pré-sal, em que as águas são bem mais profundas, o petróleo está muito mais distante da superfície, e os riscos são bem maiores. Com o agravante de a Petrobras ser a operadora monopolista nesta fronteira de exploração. Ela tem competência técnica, mas assumirá uma pesada aposta. Melhor aproveitar o vazamento para preparar uma retaguarda ao pré-sal.

Editorial do jornal O Globo.

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