Show de desinformação no vazamento.
De 20 de abril ao fim da primeira quinzena de junho do ano passado, um poço sem controle, no mar do Golfo do México, sob a plataforma da BP "Deepwater Horizon", jorrou de 3 a 4 milhões de barris, no maior desastre ambiental da história dos Estados Unidos.
Na costa fluminense, uma perfuração feita por uma plataforma a serviço da americana Chevron, em consórcio com a Petrobras, abriu fissuras no fundo do mar pelas quais escapou petróleo. Formou-se uma grande mancha no Atlântico, empurrada por correntes em direção à África. Sorte das populações de Cabo Frio, Búzios e adjacências. E do próprio país. O acidente fez lembrar o Golfo. Mas com profundas diferenças. Para começar, a dimensão. O vazamento ocorrido na costa fluminense é ínfimo em comparação com o do Golfo do México, causa da virtual paralisação da indústria de pesca na costa da Louisiana e arredores, além de prejuízos extensos ao turismo. Além de danos ambientais generalizados. Outra diferença importante é na transparência e acesso a informações sobre o acidente. Nos Estados Unidos, o sinal emitido por câmeras colocadas diante da cabeça do poço acidentado foi aberto a todas as emissoras de TV. Bastava, em qualquer lugar do mundo, sintonizar uma emissora americana para se acompanhar a evolução do vazamento. Nos primeiros dias, canais como a CNN mantiveram a imagem numa pequena janela aberta na tela, indefinidamente.
No Brasil, não há sequer estimativa confiável de quanto fluiu pelas fissuras: 2,5 mil barris, nas contas da empresa; 15 mil, pelo faro da Secretaria de Meio Ambiente do Rio de Janeiro. Nestas mais de duas semanas em que o acidente ocupou manchetes, ouviram-se brados nacionalistas, opiniões veementes e definitivas de gente cujo único contato com a indústria de petróleo é ser consumidora de gasolina.
Passados o vozerio e manipulações políticas, é preciso uma séria revisão de todo o processo de certificação e acompanhamento dos trabalhos de exploração de petróleo no mar. (Um plano de contingências para estas circunstâncias está com um atraso de dez anos.) É bem-vinda a anunciada auditoria que o Tribunal de Contas da União (TCU) pretende fazer do caso, junto a Chevron, Petrobras e Agência Nacional do Petróleo (ANP), cuja competência é questionada desde que foi capturada pelo aparelhamento político do Estado patrocinado pelo lulopetismo.
Pois há agora um caso prático para se medir o desempenho da ANP em situação de emergência. Um exemplo emblemático do que acontece quando se aparelha área estratégica é o furacão Katrina em New Orleans. Ocupada por amigos do presidente Bush, a Defesa Civil federal dos EUA (Fema) não preparou a cidade para a tormenta.
Há uma oportunidade de se passar a limpo normas e procedimentos, antes de o país avançar na exploração do pré-sal, em que as águas são bem mais profundas, o petróleo está muito mais distante da superfície, e os riscos são bem maiores. Com o agravante de a Petrobras ser a operadora monopolista nesta fronteira de exploração. Ela tem competência técnica, mas assumirá uma pesada aposta. Melhor aproveitar o vazamento para preparar uma retaguarda ao pré-sal.
Editorial do jornal O Globo.
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